14/11/2022 - 20:24
É possível criar uma associação de países que possuem florestas, para lutar por sua preservação e ter acesso aos vultosos recursos internacionais disponíveis para a finalidade? Uma primeira resposta a esta pergunta foi anunciada com estardalhaço na primeira semana da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP-27. A segunda é aguardada para esta semana.
A primeira resposta atende pela sigla FCLP, Forest and Climate Leaders Partnership. Trata-se de um consórcio de 25 países que congregam, juntos, 35% das florestas do planeta, liderados por Estados Unidos e Gana. Na COP-26, em Glasgow, líderes mundiais se comprometeram a zerar o desmatamento até 2030 e a FCLP é uma decorrência disso. “A FCLP é um passo importante, e é fundamental para manter vivo o objetivo de limitar a elevação de temperatura em 1,5 °C”, disse Alok Sharma, presidente da COP-26, no lançamento da associação.
Os 25 países da FCLP poderão acessar os fundos de US$ 12 bilhões que foram destinados à preservação de florestas ainda na COP-26. De lá para cá apareceu mais dinheiro na mesa. A Alemanha decidiu engordar o bolo com mais US$ 2 bilhões, e uma vaquinha entre grandes empresas mundiais arrecadou mais US$ 3,6 bilhões.
A FCLP, no entanto, conta com uma limitação. Nenhum dos três países com maior cobertura de floresta tropical – pela ordem, Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia – faz parte da associação. Entre os três, apenas a Indonésia, até agora, mostrou algum interesse em aderir.
Há, assim, grande expectativa na COP em relação ao segundo anúncio, prometido para esta semana: uma federação reunindo justamente Brasil, República do Congo e Indonésia. A ideia era que a “Opep das florestas”, como vem sendo apelidada no Egito, seja lançada simultaneamente na COP-27 e na conferência do G-20.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, pretende fazer o anúncio no pavilhão brasileiro, no que seria um dos últimos atos do governo Jair Bolsonaro numa área onde o presidente brasileiro recebe várias críticas internacionais. Em sua gestão, o Brasil se tornou líder mundial de desmatamento. Os outros integrantes da “Opep das florestas”, no entanto, não apresentam histórico muito melhor. O Congo é o segundo colocado no ranking funesto, enquanto a Indonésia chega em quarto lugar. A terceira colocada é a Bolívia.
Uma questão que surge é quem ficaria à frente da “Opep das florestas”. O Brasil seria o candidato natural por ter em seu território 60% da maior mata tropical do mundo. “Isso não nos qualifica automaticamente à liderança”, diz Natalie Unterstell, diretora do Instituto Talanoa. Há expectativa da comunidade internacional de que o governo Lula retome a prioridade da pauta ambiental. E como disse a ex-ministra Marina Silva, os países que quiserem liderar na área ambiental têm de fazê-lo pelo exemplo – e o Brasil tem uma longa lição de casa pela frente.