28/11/2022 - 10:49
O ataque a duas escolas de Aracruz, no Espírito Santo, chocou o País na última sexta-feira, 25. Ao todo, quatro pessoas morreram e 13 ficaram feridas pelos tiros disparados por um adolescente de 16 anos que invadiu os colégios utilizando roupas camufladas com símbolos nazistas e armas do pai, que é policial militar. Uma dessas vítimas é Selena Sagrillo, de 12 anos, filha da bióloga Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto, que divulgou no fim de semana uma carta aberta sobre o assassinato da filha.
No texto, Thais diz escrever a carta do quarto de Selena. “Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar”, diz a mãe. Ela compartilha um pequeno texto que havia sido escrito por Selena há um ano atrás, em seu aniversário de 11 anos, e diz que a filha estava se tornando uma “mulher poderosa, alma livre, feminina”.
Por fim, Thais diz clamar por “piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser”. Ela pede orações e energias positivas neste momento de tanta dor e afirma que espera que a partida da Selena “seja o início de uma nova revolução, assim como ela (Selena) gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença”, finaliza.
Selena Sagrillo tinha recém-completado 12 anos e era aluna do 6º ano da segunda escola invadida pelo atirador. O corpo da vítima foi velado e sepultado neste sábado, 26, no cemitério de Pendanga, no município de Ibiraçu, Espírito Santo.
Confira a carta da mãe de Selena na íntegra:
“Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.
O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.
Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:
‘Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.’
Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da Copa do Mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlyson, que ela achou ‘incrível’.
Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.
Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.
Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.”