Meios de comunicação peruanos condenaram a tentativa do ex-presidente de romper com a ordem constitucional e classificaram líder esquerdista como ‘golpista’, ‘destituído’ e ‘preso’

A tentativa de golpe de Estado e a prisão do ex-presidente do Peru, Pedro Castillo, monopolizou a cobertura da imprensa peruana nesta quinta-feira, 8. O principais jornais do país destacaram nas capas de suas edições impressas a queda de Castillo após o anúncio de fechamento do Congresso e a condução da vice-presidente Dina Boluarte ao cargo máximo da política nacional.

O Diario Perú21 foi um dos mais incisivos em destacar as repentinas viradas de mesa políticas. “Amanheceu presidente e foi dormir presidiário”, estampou o jornal na manchete, chamando a sucessão de eventos de “tragicômico sucesso político”.

A publicação também destacou a transferência de Castillo, na noite de quarta, à Direção de Operações Especiais da Polícia (Diroes), na zona leste de Lima. “Pedro Castillo acompanha agora a [Alberto] Fujimori na Diroes por tentar impor uma ditadura”, acrescentou.

Em outro texto destacado na capa, o jornal afirma que “A democracia e as instituições no Peru são mais sólidas do que [nós] os peruanos imaginávamos”.

O jornal El Comercio, um dos mais tradicionais e de maior circulação no país, destacou em sua manchete a condução de Dina Boluarte à Presidência do país, mas também reservou uma chamada de capa para a prisão do ex-presidente, referindo-se a ele como golpista. “Detêm ao golpista Castillo por rebelião e pode pegar até 20 anos de prisão”.

O jornal peruano também resume da seguinte forma os acontecimentos de quarta-feira: “Logo ao anunciar a dissolução do Congresso e a instauração de um “governo de exceção”, [Castillo] foi destituído por incapacidade moral com 101 votos no Parlamento e detido em flagrante por quebrar a ordem constitucional.”

O tradicional Diario Correo também foi duro ao se referir a Castillo. “O final de um golspita”, estampou o periódico com mais de meio século de circulação. E acrescentou: “Pedro Castillo fracassa em uma tentativa de perpetrar um golpe de Estado e é detido em flagrante.”

O La República circulou em edição extraordinária destacando “A primeira mandatária mulher da história do Peru”, e com uma chamada em forma de pedido. “Presidenta Boluarte, governe de frente para o país”. A menção ao ex-presidente Castillo ficou restrita a dois destaques secundários.

“Em Barbadillo: onde terminam os golpistas”, dizia um deles, em referência ao complexo prisional de Lima para onde o presidente foi inicialmente enviado. Imediatamente acima, em outro destaque, lê-se: “O fracassado asilo de Pedro Castillo no México”, em referência a tentativa de fuga do presidente, antes de ser detido.

O La Razón também publicou uma edição especial sobre a tentativa de golpe. “Destituído e preso”, escreveu o jornal, detalhando o caso da seguinte forma: “Tentou fugir e se asilar na Embaixada do México, mas equipe da Swat executou uma operação de captura.”

No topo da edição, o jornal dá destaque à posse de Dina Boluarte: “Dina jura como presidente e chama à unidade”, escreveu.

Entenda o caso

O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou a dissolução do Congresso e a criação de um “governo de emergência” na quarta-feira, 7. O movimento foi uma última cartada do presidente para evitar que os parlamentares votassem seu impeachment, que seguiu mesmo assim e o destituiu do poder.

Em 16 meses no poder, a oposição majoritária no Congresso pressionou Castillo com três pedidos de impeachment, mas não havia conseguido o número de votos necessário para sua destituição nas duas primeiras tentativas.

Sem o respaldo de nenhuma esfera de poder – Legislativo, Judiciário, Forças Armadas, Polícia Nacional e nem do próprio gabinete -, Castillo foi preso horas depois de anunciar a dissolução do Parlamento, após deixar o Palácio Presidencial e tentar se refugiar na Embaixada do México.

Ainda na noite de quarta-feira, o ex-presidente foi transportado de helicóptero até a base da Diretoria de Operações Especiais da polícia, no distrito de Ate, onde deve ficar recluso por até 15 dias, sob investigação. Ele deve ser acusado pelo crime de sedição, por atentar contra a ordem democrática do país.