Vice-governador de São Paulo, Felicio Ramuth (PSD) afirma que ouviu especialistas de várias orientações ideológicas para, segundo ele, resgatar e corrigir falhas dos programas anteriores ao tentar lidar com a Cracolândia. A proposta atual é marcada pelo aumento das vagas de internação e trabalho conjunto entre os poderes municipal e estadual. Ele admite que as novas ações podem dispersar ainda mais os usuários de droga, mas acredita que a distribuição de agentes da PM ajuda a conter problema.

Como acabar com a Cracolândia?

Não existe bala de prata ou solução mágica. Existe trabalho constante que envolve as políticas públicas de saúde, segurança e assistência social. Estive com o (deputado Eduardo) Suplicy, o padre Júlio Lancelotti, a ouvidoria da PM e representantes de clínicas particulares. Selecionamos os pontos comuns. Temos quatro diretrizes: a abordagem qualificada dos usuários, mais oportunidades de tratamento, integração entre Prefeitura e governo e o recadastramento das pessoas.

Como será essa abordagem? Assistente social vai ao fluxo com o policial?

São especialistas em dependência química. Pode ser um psicólogo ou outro profissional com experiência em dependência química e que será contratado pelo Estado. Estará acompanhada de uma viatura. Temos seis a oito cenas abertas de uso que serão visitadas. A primeira questão é a confiança. Esses profissionais convencem essas pessoas e levam para o Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), que será a porta de entrada e deve funcionar no novo formato este mês.

Quais serão os critérios para encaminhamento para o tratamento?

Hoje temos vagas sobrando nos Centro de Atenção Psicossocial, grupos de mútua ajuda, comunidades terapêuticas e até de internações hospitalares. Se houver demanda maior, a prioridade será dos usuários das cenas abertas.

Essa forma de abordagem não vai criar mais tensão?

Especialistas apostam na abordagem qualificada. Espalhar não é ruim porque facilita a abordagem e ações da polícia.

A dispersão foi positiva?

Sim. O problema é que as operações anteriores não vieram acompanhadas dos outros serviços, como a abordagem no local e o trabalho policial mais espalhado. A dispersão por si só não é negativa.

Os frequentadores vão aceitar a abordagem?

Essa experiência de abordagem é baseada no “Consultório de Rua”. Ele é qualificado para a saúde, não para dependência química. Isso já existe nas cenas de uso. Esse é o exemplo.

A Cracolândia pode se dispersar ainda mais?

Sim, pode acontecer. A estrutura logística contratada prevê justamente esta dispersão. Afinal, a gente não tem a pretensão de achar que essas ações vão acabar com o consumo de drogas no Brasil. Pode acontecer uma dispersão. Hoje, vem gente do Brasil todo consumir drogas na região central de São Paulo. O centro vai deixar de ser terra de ninguém. Isso vai deixar de atrair pessoas.

Em caso de dispersão, a estratégia será mantida?

Sim. Vamos manter as diretrizes com a dispersão com a abordagem qualificada, a ampliação das opções de tratamento. Também teremos as ações de segurança pública, com um policiamento mais espalhado pela região central.

As ações de segurança pública estão em segundo plano neste momento?

Não. As ações da Polícia Civil vão continuar contra o tráfico, os receptadores, mas longe de ser midiático. Não teremos um anúncio sobre o fim da Cracolândia.

Por que o plano dará certo?

Estamos corrigindo pontos negativos anteriores. Nunca existiu coordenação de esforços.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.