Os juros futuros encerraram o dia em alta ao longo de toda a curva, pressionados pelo ambiente de cautela global e doméstica. Os rendimentos dos Treasuries avançaram, reflexo da avaliação de que os juros dos Estados Unidos terão de subir mais do que o esperado para debelar a inflação. Por aqui, predominaram os temores de que o governo amplie a ofensiva contra o Banco Central e o nível da taxa Selic.

Nesse ambiente, as taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) subiram mais de dez pontos-base na comparação com o ajuste de ontem na maior parte da curva: janeiro de 2025 (12,670% para 12,840%), janeiro de 2027 (13,026% para 13,250%) e janeiro de 2029 (13,419% para 13,620%). A taxa para janeiro de 2024 foi a que menos cresceu, de 13,319% para 13,380%.

As taxas foram às máximas na última hora do pregão, enquanto os investidores digeriam a afirmação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prometeu que a pasta concluiria esta semana os trabalhos sobre a nova âncora fiscal que substituirá o teto dos gastos. Segundo o ministro, a ideia é que a regra seja conhecida já em março, para que o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) seja enviado ao Congresso no formato final.

“O presidente do BC, Roberto Campos Neto, colocou o novo arcabouço fiscal como condição para o corte da taxa Selic. O próximo passo depois de Haddad apresentar o arcabouço fiscal é elevar a temperatura em cima do Copom para reduzir os juros”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. Na manhã, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, já havia reforçado a pressão por um corte.

Declarações do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também pesaram nas taxas durante a tarde, após o executivo ter defendido uma alteração dos preços de paridade de importação (PPI). A política de preços da estatal é alvo de críticas de parte do governo e do PT – incluindo a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, que defendeu publicamente que a reoneração dos combustíveis só ocorresse após a mudança do PPI.

No pano de fundo doméstico, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviram para aumentar o temor fiscal. Após o IBGE ter divulgado a queda de 0,2% do PIB brasileiro no quarto trimestre, o chefe do Executivo disse que os dados mostravam que a economia brasileira “não cresceu nada” em 2022 e prometeu aumentar os investimentos, inclusive por meio dos bancos públicos, para estimular a atividade.

“Medidas para contornar o desaquecimento econômico podem se traduzir em inflação, e isso justifica o estresse”, afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. “Temos também uma série de acontecimentos que sugerem um ambiente desafiador de crédito, e isso sinaliza que, à frente, podemos ver medidas com potencial de superaquecer a economia e gerar pressão inflacionária”.

O aumento das taxas refletiu também o comportamento dos Treasuries americanos, pressionados pela possibilidade de que o Federal Reserve (Fed) tenha de subir os juros mais do que o esperado. O rendimento da T-Note de dez anos subiu de 3,999% ontem para 4,068% hoje, em linha com a alta do título de dois anos (4,891% para 4,895%).

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