A condução da política monetária brasileira pelo Banco Central (BC) seguirá desafiadora em 2023. Os motivos são o cenário internacional de juros elevados e de crescimento baixo, as incertezas sobre os desequilíbrios nas contas do governo e as pressões políticas sobre a autoridade monetária, em discursos e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros. A avaliação é de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que participaram ontem do 1.º Seminário de Análise Conjuntural, organizado em parceria com o Estadão, em formato virtual.

Segundo José Júlio Senna, diretor do Centro de Estudos Monetários (CEM) do FGV Ibre, o cenário externo aponta para a necessidade de um ciclo mais forte de elevação dos juros americanos, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que diminuiria o espaço para o BC do Brasil reduzir a taxa básica Selic (hoje, em 13,75% ao ano).

No quadro doméstico, com os preços pressionados e as expectativas de inflação em elevação, não há espaço para o BC reduzir juros por aqui. “Não parece que haja muita coisa que o BC possa fazer. O certo é que ele não vai afrouxar a política monetária sem uma justificativa muito boa”, afirmou Senna.

Na visão de Senna, diante de sinalizações da equipe econômica, principalmente no sentido de buscar aumentos da arrecadação tributária, o BC poderá até fazer ajustes em seu “balanço de riscos”, citados em seus comunicados, mas não há atalhos para reduzir os juros. “Nada substitui um ajuste fiscal robusto”, disse.

Ajuste nas contas

O problema é que há pouco otimismo com a possibilidade de o atual governo federal caminhar no sentido de um ajuste, cujas esperanças estão depositadas no novo arcabouço de regras fiscais a ser anunciado pela Fazenda. Para Armando Castelar, também pesquisador do FGV Ibre, a proposta da equipe econômica deverá ser “mais uma promessa” do que “algo que amarre os gastos”. “Na ausência de alguma coisa que segure o gasto, o governo está tentando aumentar a arrecadação tributária”, afirmou.

Com isso, as expectativas de inflação seguem subindo. Castelar citou as cotações dos títulos da dívida pública, que apontariam para inflação implícita de 6,3%, “muito longe da meta” de inflação, de 3,25% para este ano – a inflação implícita é calculada com base nas taxas de juros dos títulos públicos negociados no mercado; quando os investidores veem incertezas no horizonte, tendem a desvalorizar as cotações dos títulos, o que eleva as taxas, aumentando a inflação implícita. “O mercado está dizendo que não acredita que a inflação vai cair nem para baixo do teto da meta. Esse é o desafio do BC”, afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.