Os reajustes de mensalidades escolares no início do ano letivo pressionaram a inflação no País em fevereiro, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de 0,53% em janeiro para 0,84% no último mês, informou nesta sexta-feira, 10, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado não deve abrir espaço para o corte de juros pelo Banco Central (BC), cujo Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 21 e 22 para definir como ficará a Selic, hoje em 13,75% ao ano.

O resultado superou a estimativa de alta mediana de 0,78% de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast do Estadão (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). A taxa do IPCA do mês passado reflete o que deve ser o comportamento da inflação ao longo do ano, com alguns repiques por fatores sazonais e uma desaceleração “muito lenta”. “Ainda devemos ver os principais itens rodando ao redor de 6% (no IPCA de 2023)”, disse a economista para o Brasil do banco BNP Paribas, Laiz Carvalho.

Com o resultado do mês passado, o IPCA em 12 meses arrefeceu de 5,77% em janeiro para 5,60% em fevereiro, mas a abertura dos dados do último mês não animou economistas. O índice de difusão, que mostra a proporção de itens com aumentos de preços, aumentou de 63% em janeiro para 65% em fevereiro.

Análise

“Na nossa avaliação, as condições correntes desafiadoras recomendam uma calibragem conservadora da política monetária”, disse o diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, em relatório.

A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3,25% neste ano, com um teto de tolerância de 4,75%.

Em fevereiro, os cursos regulares subiram 7,58%, puxados por aumentos que superaram os 10% no ensino médio e no ensino fundamental, além de altas relevantes também na pré-escola, creche, ensino superior, cursos técnicos e pós-graduação.

“O qualitativo da inflação parece ter atingido um ponto de inflexão e deve ficar bem acima do teto da meta nos próximos meses”, afirmou o economista João Rabe, da gestora de recursos EQI Asset.

Serviços

A inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços – passou de uma elevação de 0,60% em janeiro para uma alta de 1,41% em fevereiro, maior resultado da série histórica iniciada em 2012 pelo IBGE.

Segundo Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, a alta recorde nos serviços “está fortemente relacionada aos cursos regulares”, mas também é resultado de pressão dos avanços em aluguel residencial e transporte por aplicativo. “A gente tem observado uma queda na taxa de desocupação, que continua, aumento de rendimento real, e isso pode significar uma maior demanda pelo setor de serviços”, disse Kislanov.

Segundo ele, a inflação de serviços acumulada em 12 meses teve um pico recente em julho de 2022, quando alcançou 8,87%, engatando então uma trajetória de arrefecimento, passando de 7,80% em janeiro para 7,84% em fevereiro. No mês de fevereiro de 2022, a inflação de serviços foi de 1,36%.

Alimentos

Após período de forte pressão, fevereiro registrou uma trégua na despesa com alimentação e bebidas. Os produtos alimentícios para consumo no domicílio tiveram ligeira alta de 0,04% em fevereiro. Houve quedas nos preços das carnes (-1,22%), batata-inglesa (-11,57%) e tomate (-9,81%).

Segundo Kislanov, a redução no custo das carnes já pode ser efeito da suspensão de exportações do Brasil para a China, por conta de registro de um caso de mal da “vaca louca” em um bovino no Pará. “Pode ser o efeito da suspensão de exportações de carnes do Brasil para a China por conta do mal da vaca louca”, disse. “Tem maior oferta de carnes no mês, não só de carne bovina, mas também frango.”

A picanha, que virou tema da disputa eleitoral do ano passado, foi o corte com maior redução, com queda de 2,63%. Na sequência, vieram fígado (-2,50%), alcatra (-2,50%), capa de filé (-2,37%) e costela (-2,28%).

Quanto aos alimentos in natura, o pesquisador do IBGE cita aumento de oferta em decorrência de clima favorável na colheita, como o caso do tomate. No entanto, o leite longa vida subiu 4,62%, após seis meses consecutivos de quedas. “Não entramos ainda no período de entressafra do leite. A alta do leite foi um pouco atípica nesse mês de fevereiro”, comentou Kislanov.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.