A inflação na Argentina avançou 6,6% em fevereiro, informou ontem o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). O resultado representou uma aceleração em relação a janeiro, quando o índice já havia crescido 6%. Na comparação anual, a inflação ao consumidor no país vizinho chegou a 102,5% nos 12 meses até fevereiro – também acima da variação de 98,8% até janeiro. O índice anual superou os três dígitos pela primeira vez desde outubro de 1991.

Nos dois primeiros meses de 2023, a alta dos preços ao consumidor atingiu 13,1%. O nível geral de preços no varejo deverá ter um aumento de 100% neste ano, segundo a mais recente pesquisa de expectativas divulgada pelo Banco Central argentino, com base em relatórios dos maiores bancos e consultorias econômicas privadas do país.

O governo do presidente Alberto Fernández havia estimado no Orçamento nacional para 2023 uma taxa anual bem menor, de 60%. “Os itens com maior incidência geral foram alimentos e bebidas não alcoólicas (+9,8%), principalmente devido à incidência que representa em carnes e laticínios”, segundo o relatório do Indec.

“A meta de inflação do governo em torno de 60% na comparação anual para dezembro parece cada vez mais inatingível”, afirmou a consultoria Ecolatina em relatório. Segundo o documento, a inércia inflacionária parece “difícil de desarmar no curto prazo”.

E isso se deve a uma série de fatores, entre eles, o impacto da seca sofrida pela Argentina sobre o preço de alimentos, os aumentos pendentes nas tarifas do serviço público e a dinâmica de recomposições salariais em um ano de eleições presidenciais (em outubro), em que a economia terá um peso fundamental na decisão dos eleitores.

As pressões inflacionárias também são alimentadas pelas restrições às importações, pelo aumento dos preços das diferentes taxas de câmbio que coexistem na Argentina e pelos desequilíbrios que arrastam as contas públicas e o Banco Central para financiar o Tesouro.

Inflação reprimida

Segundo Eugenio Marí, economista-chefe da fundação Libertad y Progreso, os preços ao consumidor na Argentina deverão subir 110% neste ano, com “um componente muito importante de inflação reprimida”. “Nos últimos três anos, acumularam-se atrasos nas tarifas de luz, gás e água, nos transportes, saúde e outros itens com preços administrados”, explicou Marí à agência EFE.

Soma-se a isso o desequilíbrio cambial e monetário que, segundo o especialista, “torna imprescindível que, caso a inflação comece a cair, se avance pelo menos para o equilíbrio fiscal consolidado e se dê real independência ao Banco Central”. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.