12/04/2023 - 18:14
O dólar emendou o segundo pregão de queda firme na sessão desta quarta-feira, 12, e rompeu a barreira de R$ 5,00 no fechamento pela primeira vez desde início de junho de 2022, em dia marcado por perdas da moeda americana no exterior. O real apresentou o melhor desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities, seguido de perto pelo peso colombiano. Operadores voltaram a relatar fluxo de recursos estrangeiros para ações e renda fixa local, além de fechamento de câmbio por exportadores e desmonte de posições defensivas no mercado futuro.
Já favorecidas pela alta das commodities diante de sinais positivos da economia chinesa, divisas emergentes, em especial latino-americanas de países com juros altos, ganharam impulso extra hoje com a divulgação do resultado abaixo do esperado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em março. Embora o processo de desinflação ainda seja lento, cresce a percepção de fim iminente do aperto monetário, com provável alta residual de 25 pontos-base em maio.
Por aqui, ainda reverberam nas mesas de operação a desaceleração forte do IPCA em março e a possibilidade de inclusão de travas extras à expansão de gastos na proposta do novo arcabouço fiscal, em meio a sinais de que o presidente Lula teria arbitrado a favor da equipe econômica na disputa com a ala política do Planalto.
Tirando uma alta bem pontual e limitada nos primeiros minutos de negócios, o dólar operou em baixa firme ao longo do dia. Com mínima a R$ 4,9176 (-1,79%) no fim da manhã, a moeda encerrou a sessão em baixa de 1,31%, cotada a R$ 4,9417 – menor valor de fechamento desde 9 de junho de 2022 (R$ 4,9156). A divisa já apresenta perdas de 2,30% na semana e de 2,50% em março, o que leva a desvalorização acumulada no ano a 6,41%.
“A valorização do real hoje é acompanhada por outras moedas no mundo. O mercado reage à divulgação da inflação americana abaixo das expectativas, que pode ter efeito no ciclo de alta de juros nos EUA”, afirma o head de investimentos da Nomad, Caio Fasanella. “O resultado do CPI aumentou as apostas de que o Fed pode ser menos duro na alta de juros, o que foi positivo para moedas emergentes”, diz a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
O CPI subiu 0,1% em março, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0,2%). Na comparação anual, houve desaceleração de 6% em fevereiro para 5% no mês passado, resultado inferior às expectativas (5,2%). Já o núcleo do índice – que exclui preços de alimentos e energia – avançou 0,4% em março, em linha com o esperado, e 5,6% na comparação anual.
Na ata de seu encontro de março, divulgada à tarde, o Federal Reserve prevê que os EUA passem por uma “leve recessão”, que deve se iniciar no fim deste ano, em parte por conta de aperto nas condições financeiras com a crise nos bancos médios americanos. O documento não mudou a aposta majoritária de que haverá pelo menos mais uma alta de 25 pontos-base na taxa de juros e um ciclo de cortes no segundo semestre.
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a mudança de perspectiva de taxa de juros nos EUA no fim do ano e a valorização dos preços das commodities são os principais propulsores da onda recente de queda expressiva do dólar no mercado doméstico de câmbio.
“O grande fator para a queda do dólar é certamente a mudança da perspectiva para a política monetária americana. A projeção para os FedFunds no fim do na caiu recentemente de 5,60% para 4,38%. Isso teve grande impacto no valor do dólar frente a divisas emergentes”, afirma Oliveira, acrescentando que a redução de ruídos políticos internos contribui para a apreciação do real. “Lula fez defesa de Haddad e o secretário do Tesouro Rogério Ceron disse que aceitou sugestões do mercado para melhorar o arcabouço fiscal”.
Oliveira vê possibilidade de continuidade da apreciação da moeda brasileira dados os fundamentos macroeconômicos e o fato de a taxa real de câmbio (que leva em conta diferencial de inflação interna e externa) ainda estar em níveis depreciados. “E temos ainda entrada de portfólio para renda fixa, com o juro alto, e para equity (ações). Faz sentido para gestores de recursos no exterior aumentarem o peso do Brasil em suas carteiras”, diz o economista-chefe do Pine, para quem, após uma provável queda adicional no curto prazo, o dólar deve encerrar o ano na casa de R$ 5,00, em razão de cortes da taxa Selic.