Os juros futuros encerraram a sessão com taxas de curto e médio prazo perto da estabilidade e as longas em queda. A perda de inclinação da curva foi pavimentada pelo cenário externo de maior otimismo sobre a política monetária do Federal Reserve, por sua vez apoiado no dado de inflação no atacado nos Estados Unidos bem abaixo do esperado. Ainda, indicadores robustos do comércio exterior da China favoreceram ativos de economias emergentes, com impacto na estrutura a termo não só pelo aumento da demanda na renda fixa brasileira como também ao jogar o dólar ainda mais para baixo ante o real, o que sugere melhora na dinâmica inflacionária. O leilão de prefixados, com lotes e risco menores para o mercado, também deixou de adicionar pressão sobre as taxas.

Com o desempenho hoje, apenas as taxas com vencimento a partir de 2030 ainda estão acima de 12%. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,16%, de 13,13% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,79% para 11,77%. A taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,74% para11,62%. A do DI para janeiro de 2029 terminou em 11,97%, de 12,14%.

O desenho da curva se definiu ainda pela manhã, a partir da reação dos Treasuries ao índice de preços ao produtor (PPI, em inglês), que caiu 0,5% em março, ante expectativa de estabilidade, no caso do dado cheio. O núcleo subiu apenas 0,1%, contra previsão de avanço de 0,2%. Na taxa anual, a inflação cheia desabou de 4,9% em fevereiro para 2,7% e o núcleo passou de 4,5% para 3,6%. As apostas de alta de 25 pontos-base no juro para a reunião do Federal Reserve em maio recuaram, mas ainda são majoritárias. As taxas longas chegaram a fechar quase 20 pontos, mas a partir de meados da tarde reduziram o ritmo, alinhadas às máximas dos rendimentos dos Treasuries.

A percepção de que o ajuste do Fed em maio pode ser o último do atual ciclo vem amadurecendo desde a semana passada, com dados do mercado de trabalho indicando esfriamento e com os números de inflação nesta semana abaixo do previsto, além da ata do Fed ontem mostrando que os diretores já trabalham com a ideia de uma recessão leve no fim do ano. “Parece não haver mais tanto estímulo a continuar elevando o juro”, afirmou o economista do Banco Modal Rafael Rondinelli.

Analistas da MCM avaliam que a inflação cheia deverá seguir desacelerando no curto prazo ao redor do mundo, alimentando a ideia de que o pior em relação a preços e juros ficou para trás. “No Brasil, com a ajuda dos preços dos alimentos e, talvez, até mesmo da apreciação do real, o IPCA deverá encostar nos 4% ano/ano em junho, antes da voltar a subir no segundo semestre”, disseram.

O dólar se firmou abaixo dos R$ 5 desde ontem – hoje fechou em R$ 4,92 -, acumulando três sessões de queda, o que traz boas perspectivas para a dinâmica inflacionária, sobretudo na questão dos combustíveis. No que se refere à Selic, a percepção é de que não somente as próximas leituras de inflação têm de continuar melhorando, incluindo desinflação mais firme dos núcleos, mas também contagiando as projeções futuras, para então abrir espaço para um corte.

“Enquanto a rigidez dos núcleos e, particularmente, dos preços dos serviços permanecer elevada, o espaço para afrouxamento das políticas monetárias tende a ser limitado”, acrescentam os profissionais da MCM.

Tal contexto explica a lateralidade dos DIs de curto e médio prazos entre ontem e hoje, após cederam bastante com o IPCA.

Na gestão da dívida pública, o Tesouro reduziu o volume da oferta de LTN para 14 milhões esta semana, colocada integralmente, ante os 20 milhões da semana passada. Nas NTN-F, o Tesouro ofertou 650 mil, mas vendeu apenas 300 mil, no vencimento de 2029, rejeitando propostas para 2033.