De uma São Paulo do século passado, muitos paulistanos guardam lembranças do interior do edifício de linhas retas e história ligada à telefonia da Rua Sete de Abril, na República, no centro paulistano. O antigo prédio da Companhia Telefônica Brasileira (CTB) e Telesp (Telecomunicações de São Paulo) reabrirá após mais de uma década fechado, desta vez como um condomínio de apartamentos com uma galeria aberta de lojas e restaurantes, que irá expor alguns dos “tesouros” do passado daquele local. Uma “ocupação artística” será aberta ao público nesta sexta-feira, 21, no local e vai durar 10 dias.

O empreendimento é o segundo na cidade a receber o alvará para realizar um “retrofit” dentro das normas da lei do programa Requalifica Centro (17.577/21) – regulamentada no ano passado e aprovada na Câmara em meio a críticas pela votação “a jato” e pouco tempo para discussão sobre os impactos econômicos dos incentivos fiscais. O outro projeto autorizado é para a Rua Aurora, também no distrito da República. Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), outros 12 pedidos estão em análise pela Prefeitura.

Em estilo art déco e inaugurado em 1939, o antigo prédio da Telesp é tombado desde 1992, com a determinação da preservação das características externas. Ele terá as fachadas restauradas, com a transformação da parte interna em residencial, toda renovada.

Antes da obra, o empreendimento tem realizado atividades culturais e gastronômicas no local, promovidas pelo produtor Kauê Fuoco, do Projeto Kura. A mais recente é a exposição Irrealidades Visíveis, que será aberta ao público neste feriado de Tiradentes com intervenções feitas dentro do edifício por diferentes artistas, como Alexandre Vianna, Cusco Rebel, Fernanda Romão.

A mostra terá visitas guiadas até 30 de abril, de segunda a sexta-feira, das 14h às 20h, com entrada gratuita pela plataforma EvenBrite (eventbrite.com.br/e/mostra-irrealidades-visiveis-tickets-617286730227). Na porta, o ingresso será vendido a R$ 35.

‘Tesouros’ da telefonia

Quando inaugurado, o condomínio terá uma galeria aberta no térreo, que permitirá a travessia de pedestres entre as Ruas 7 de Abril e Basílio da Gama, como ocorre em outros edifícios da região, com um “food hall” com lojas e restaurantes em volta de um jequitibá rosa. Ao longo da galeria, serão dispostos maquinários que faziam parte das operações de telefonia do edifício, como uma central telefônica quase centenária.

Batizado de “Basílio 177”, o empreendimento inclui mais duas torres, uma já existente e outra que será erguida onde hoje há um imóvel de três pavimentos do lado direito do antigo prédio da Telesp. Sócio do escritório Metro, autor do projeto, o arquiteto Gustavo Cedroni avalia que a comunicação entre as duas ruas vai criar uma maior conexão com os vizinhos, como a Galeria Metrópole. “As pessoas vão poder cruzar pelo empreendimento. É um resgate de um modo de viver que o centro sempre proporcionou.”

Ele também comenta sobre a experiência de trabalhar com dois edifícios de décadas atrás (anos 1930 e 1950). “A qualidade de material e de técnica é muito superior ao padrão de mercado hoje em dia feito no Brasil, com mármores e pedras nos acabamentos externos. Muitos materiais que, para um projeto desse porte hoje em dia, seria inviável do ponto de vista financeiro, além de ser um resgate histórico.”

Ao todo, serão cerca de 35 mil metros quadrados e 274 apartamentos, a maioria de um (de 35 a 77 m2) e dois dormitórios (de 70 a 130 m2), voltado às classes média e média alta. A previsão é de que a obra tenha início em outubro e dure 20 meses. “Um público que busca apartamento design que preza boa arquitetura” é um dos perfis de futuros moradores descritos pelo diretor executivo da incorporadora Metaforma, o engenheiro Bruno Scacchetti.