Receios com o cenário fiscal e nova leva de indicadores econômicos sinalizando resistência da economia aos efeitos da política monetária mantiveram os juros futuros em alta durante toda a sexta-feira. Do lado fiscal, pesaram a “nova” política de valorização do salário mínimo e os dados do setor público consolidado. Já o IBC-Br veio muito acima do teto das estimativas, o que, juntamente com a leitura da Pnad Contínua, deixou o mercado mais cético sobre o espaço para queda firme da Selic nos próximos meses. A curva reverteu a perda de inclinação vista nos últimos dias, mas manteve no balanço do mês, com as taxas curtas acumulando alta e as longas, queda em relação ao encerramento de março.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a 13,29%, de 13,22% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,89% para 12,07%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,81%, de 11,66%, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 12,11%, de 12,00% ontem. Em 31 de março, estavam, respectivamente, em 13,19%, 12,00%, 12,07% e 12,51%.

Embora o ambiente externo tenha mostrado melhora ao longo do dia, as taxas locais não acompanharam, sob o peso da agenda e noticiário fiscal. Houve reação negativa ao resgate da política de valorização do salário mínimo sob os parâmetros de inflação mais o PIB de dois anos antes. “A volta desse modelo de gatilho automático que vigorou nos anos de Lula e Dilma é perigoso do ponto de vista das contas públicas, pois o salário mínimo tem um poder multiplicador enorme”, comentou a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, para quem “Haddad Fernando Haddad, ministro da Fazenda saiu perdendo nessa”.

Para piorar, o déficit do setor público consolidado de março, de R$ 14,182 bilhões, veio muito abaixo do esperado, até do piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, que iam de déficit de R$ 11,9 bilhões a superávit de R$ 9,850 bilhões, com mediana de saldo negativo de R$ 1,050 bilhão.

Para a Warren Rena, os resultados mostram uma situação bastante preocupante no quadro das contas públicas. Mesmo com o novo arcabouço fiscal – e considerando que possa ser aprimorado no Congresso Nacional – a tendência é de déficits ainda por alguns anos, avaliam em nota os economistas Felipe Salto, Josué Pellegrini e Fernanda Castro. “A única possibilidade de reverter esse quadro com maior rapidez seria o ingresso de receitas novas e em volume elevado. Não vemos esse quadro, por ora, como mais provável”, afirmam.

Enquanto o risco fiscal puxava para cima a ponta longa, os demais vértices eram pressionados pela percepção de resiliência da atividade aos efeitos da Selic elevada. O IBC-Br saltou 3,32% em fevereiro, na margem, superando o teto das expectativas de alta de 2%. Na esteira do Caged forte ontem, hoje a Pnad Contínua mostrou que a taxa de desemprego ficou em 8,8% no trimestre encerrado em março, pouco abaixo da mediana de 8,9%, mas acima dos 8,6% até fevereiro. Nos dados dessazonalizados pelo Itaú Unibanco, porém, a taxa ficou estável em 8,5%.

Durante a semana, o mercado reduziu as chances de corte da Selic para o Copom de junho, que em meados de abril chegou a ser de 60% para uma queda de 25 pontos-base. Nesta tarde, segundo cálculos da BlueLine Asset, eram de apenas 20% na precificação da curva, contra 80% de probabilidade de manutenção. Para o Copom da semana que vem, está consolidada a aposta de taxa inalterada no nível de 13,75%. Para o fim de 2023, a projeção é de 12,50% e para o fim de 2024, de 11%.