O mercado financeiro é unânime na aposta de que a Selic, a taxa básica de juros da economia, será mantida em 13,75% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que teve início nesta terça, 2, e termina nesta quarta, 3. Mas a avaliação é de que possíveis alterações na meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), além do nível de desaceleração econômica e do processo de redução da inflação já em curso, poderão mudar a trajetória da política monetária.

A maioria (74%) das 42 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast prevê início do ciclo de cortes da Selic ainda neste ano. Seis delas (14%) projetam redução da taxa ainda no segundo trimestre; 19 (45%), no terceiro; e seis (14%), no quarto. Outras 11 instituições esperam cortes só em 2024: nove (21%) no primeiro trimestre e seis no segundo (6%).

A mediana das projeções agora indica juros em 12,5% no fim de 2023, nível menor do que os 12,75% apurados no levantamento realizado após a ata do Copom de março. A estimativa intermediária se manteve em 10% para o fim de 2024 e subiu de 8,88% para 9% para o fim de 2025.

Revisão de projeções

O C6 Bank antecipou recentemente a projeção de início dos cortes na taxa Selic do primeiro trimestre de 2024 para o terceiro deste ano. De acordo com a economista da instituição Claudia Moreno, a antecipação se deve à perspectiva de que as metas de inflação de 2024, 2025 e 2026 serão alteradas na reunião de junho do CMN, de 3% para 4,5%. “O governo tem enfatizado que quer ver cortes na Selic e já falou algumas vezes que uma meta de 3% é baixa para o País”, diz.

Na avaliação da economista, a antecipação do ciclo de cortes decorre apenas da mudança da meta, sem qualquer relação com a apresentação do arcabouço fiscal ou com o ritmo da inflação corrente. “Como a meta a ser perseguida vai ser a de 4,5%, haverá espaço para os cortes agora, de acordo com o modelo que o Banco Central utiliza para os juros”, avalia.

Na projeção do C6, a Selic deve se manter estável nas reuniões de maio, junho e agosto do Copom, com um corte de 0,25 ponto porcentual em setembro, seguido de cortes de 0,50 ponto a cada reunião até maio de 2024. A taxa básica de juros encerraria 2023 em 12,5% e 2024 em 11%.

O economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, por sua vez, espera o começo do ciclo de cortes na reunião de junho, com uma queda de 0,25 ponto porcentual, a 13,5%. Para ele, há um processo de desinflação em curso que não pode ser ignorado pela autoridade monetária. “Temos um cenário desafiador, só que há uma melhora tímida, mas contínua, dos indicadores qualitativos de inflação”, afirma o economista, que vê os argumentos da autoridade monetária para manutenção da taxa em 13,75% como “escassos”, tendo em vista o nível de desaceleração da atividade econômica.

‘Remédio forte’

“Cortando a Selic já em junho, a taxa de juros continuará suficientemente elevada até o fim do ano para conduzir o processo de desinflação”, afirma Galhardo. “Não tem cabimento termos a taxa real mais alta do mundo neste momento. É um remédio muito forte e muito potente.” Galhardo espera também uma mudança na meta de inflação em junho, com manutenção do alvo em 3,25% para 2023 e elevação da meta fixada para 2024 de 3% para 3,5%, com aumento também das bandas, de 1,5 ponto porcentual para 2 pontos porcentuais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.