O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) abre nesta quinta-feira, 11, a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, na capital paulista, com a expectativa de receber ao menos seis ministros e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em meio à tensão com a escalada de invasões de terra pelo País e a instalação de uma CPI no Câmara dos Deputados.

O movimento dos sem terra afirma ter convidado todos os ministros. Segundo o grupo, confirmaram a presença na freira: Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Luiz Marinho (Trabalho), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Paulo Pimenta (Comunicação), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Márcio França (Portos e Aeroportos). Até domingo, há também a possibilidade de o presidente Lula visitar o galpão onde ocorre o evento, no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo.

Na manhã desta quinta, no entanto, a presença do grupo teria sido vetada em evento oficial do governo federal, em Salvador, no PPA (Plano Plurianual). A decisão teria partido do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ex-governador da Bahia. “Foi um ponto fora da curva, que lamentamos. Mas acredito que isso será resolvido e o Rui Costa segue convidado para a nossa feira”, disse Ceres Hadich, que é da coordenação nacional do movimento. Procurada, a Casa Civil nega que o ministro Rui Costa tenha vetado a participação do MST.

Como mostrou o Estadão, apenas em abril, durante o chamado “Abril Vermelho”, o movimento invadiu ao menos 13 fazendas, incluindo uma área de preservação ambiental e de estudos genéticos da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), em Petrolina (PE), além superintendências regionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O governo Lula cedeu a pressão do movimento e trocou chefes do Incra. A retomada das invasões gerou protestos no Congresso, com a instalação de uma CPI para investigar o movimento, e afastou o governo federal da Agrishow, maior evento do agronegócio do País.

Feira retorna após pausa de cinco anos

Após uma pausa de cinco anos – em função da pandemia de covid-19 e de dificuldades na negociação com o governo estadual paulista -, a feira marca o início das comemorações dos 40 anos do MST de luta em defesa da reforma agrária. O evento apresentará mais de 500 toneladas de alimentos produzidos nos assentamentos e comercializados por 1,2 mil feirantes.

“A feira pode cumprir um papel de pressão política. O MST é um momento independente, tem autonomia frente aos governos, aos partidos e outras organizações. Mas nós ajudamos a eleger o presidente Lula e queremos autonomia em relação ao governo para resolver os problemas do nosso povo e avançar naquilo que pudermos na agroindústria, do sorvete à produção de energia solar”, declarou Gilmar Mauro, também da liderança nacional.

Segundo Mauro, as ocupações seguirão acontecendo. “Uma organização que não atende às necessidades de sua categoria não tem sentido de ser. O MST é uma organização construída pelos sem terra e ela tem de responder às necessidades dos sem-terra. O MST é ocupação e produção”, afirmou. Segundo ele, o movimento está se “lixando” para CPI da Câmara.

Governo Tarcísio liberou realização da feira

A liberação da realização da Feira no Parque da Água Branca se tornou um novo ponto de tensão entre o governo Tarcísio de Freitas e a base bolsonarista. Dirigentes do MST afirmam que a feira ficou parada por quatro anos por conta da pandemia da covid-19 e por impedimentos impostos pelo ex-governador João Doria. O movimento de Tarcísio, intermediado pelo secretário de Governo Gilberto Kassab, foi visto com bons olhos pelo movimento.

“Não é novidade para ninguém que não só cedeu o parque, mas o governo está ajudando a montar a estrutura da feira”, disse o dirigente estadual do MST Delweck Matheus durante evento de lançamento da feira ainda no final de abril. Segundo ele, o governo do Estado também contribuiu com alojamento para os feirantes.

A postura foi criticada por apoiadores do governador que discordam da política de reforma agrária proposta pelo movimento. Ao participar da Agrishow em 1º de maio, porém, Tarcísio disse que “os que invadirem terrenos no Estado de São Paulo terão um só destino: a cadeia”.

Nesta quinta, Mauro voltou a elogiar a relação iniciada com o governo Tarcísio. Disse que não apenas Kassab ajudou nas negociações, mas que outros secretários estaduais colaboraram para a realização do evento. “O governador foi feito sim por uma base bolsonarista, mas governa para todos. Temos expectativa de que vamos avançar em outros pontos com ele, como no caso das terras devolutas no Pontal do Paranapanema.”