01/04/2008 - 0:00
Clima favorável, safra recorde, commodities com preços em alta. O agronegócio brasileiro há muito tempo não passava por um momento tão positivo. No entanto, nem tudo são flores nas lavouras brasileiras. Se por um lado os números atuais prometem bons ganhos, os custos de produção também crescem em ritmo acelerado e podem abocanhar uma boa fatia do lucro esperado pelos produtores. Uma amostragem feita pela Conab, que leva em conta seis das principais culturas em 13 regiões produtoras do País, prevê aumento de 16,2% por hectare ou 12,3% por saca colhida nos custos na safra 2008/09. Os fertilizantes, cujos preços dispararam no mercado internacional, aparecem como os grandes vilões responsáveis por esse aumento. “O adubo teve um aumento médio de 30% a 35%”, explica o gerente de custos da Conab, Asdrúbal Jacobina.
Em algumas regiões, esse aumento foi ainda maior. Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Sorriso, no Mato Grosso, uma das regiões com maior variação no preço do fertilizante, o gasto com o produto nas lavouras de soja, que era de R$ 285,09 por hectare na safra 2006/2007, deve chagar a R$ 393,14 por hectare na safra 2007/08. Um aumento de 37,9%.
Segundo o diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Eduardo Daher, fatos como a alta no preço do petróleo e a escassez de potássio, uma das principais matérias-primas dos fertilizantes, são os grandes responsáveis pelo aumento no preço. “Além disso, a crescente demanda por alimentos no mundo fez aumentar a procura pelo produto”, diz.
Tanto que, mesmo com o produto custando caro, a expectativa da entidade é de que o consumo aumente no Brasil, responsável por 6% do mercado mundial. Dados da Anda mostram que em 2008 as entregas de adubos devem chegar a 1,842 milhão de toneladas, enquanto em 2007 as entregas foram de 1,571 milhão de toneladas. Daher ressalta ainda que é preciso levar em conta a relação custo – beneficio do produto. “Hoje, o produtor que investe em fertilizantes tem uma produtividade maior e por isso aumenta seus ganhos”, avalia.
Mesmo assim, para a assessora técnica da CNA, Rosemeire Cristina, a alta dos fertilizantes prejudica a rentabilidade dos produtores, pois muitos buscam recursos privados para financiar sua safra, comprometendo antecipadamente parte da sua produção. “Com o temor de que os preços de fertilizantes continuassem a subir, os sojicultores venderam cerca de 60% da produção antecipadamente, a preços médios de US$ 12,50. Agora que os preços dispararam, irão deixar de ganhar o aumento verificado”, diz.
Diante disso, o governo já estuda incluir um volume maior de recursos para crédito rural no próximo plano safra, a fim de amenizar o impacto dos custos. “Estamos discutindo vários pontos do plano e aumentar o volume de recursos é um deles”, afirma o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães, que reconhece que as medidas não são suficientes para resolver o problema. “Não existe muita coisa que o País possa fazer, pois somos importadores de insumos e eles estão com preço internacional em alta”, resignase. Ao produtor, resta torcer para que os ganhos compensem os gastos.