A gigante francesa de laticínios Danone parou de comprar soja do Brasil e agora compra de países da Ásia, disse seu diretor financeiro à Reuters, antes de uma regra da União Europeia que exige que as empresas provem que não estão comprando commodities de áreas desmatadas.

Empresas da Nestlé à Unilever têm se preparado nos últimos anos para atender à nova regulamentação, antes de enfrentarem multas potenciais de até 20% do faturamento, no caso do descumprimento da legislação.

O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava programado para entrar em vigor em 30 de dezembro, embora a Comissão da UE tenha proposto um atraso de 12 meses neste mês.

Em um relatório de 2023, a Danone disse que usou 262.000 toneladas de produtos à base de soja para alimentar suas criações e 53.000 toneladas de soja diretamente na fabricação de seus produtos de leite de soja e iogurte de soja.

Ela obtinha soja do Brasil indiretamente apenas para sua produção de ração animal e a colocou sob revisão.

“Nós não (obtemos soja do Brasil mais)”, afirmou Jurgen Esser na quinta-feira, dizendo que a empresa agora estava “absolutamente” importando soja da Ásia.

“Nós realmente temos um rastreamento muito completo, então garantimos que levamos apenas ingredientes sustentáveis ​​do nosso lado”, ele disse.

Ele não deu mais detalhes sobre quando especificamente a empresa fez a mudança e de quais países da Ásia ela agora compra.

A Danone não está tão exposta ao desmatamento quanto muitos de seus rivais, disse Esser.

A soja é usada em cerca de 5% da ração das vacas leiteiras da Danone, pois os animais são alimentados principalmente com capim ou grãos, segundo afirmação da empresa em seu relatório florestal de 2023.

Ela obtém soja para seus produtos Alpro do Canadá, França, Estados Unidos e Itália, disse na época.

A última vez que a Danone detalhou o fornecimento de soja para ração animal por porcentagem foi em 2021, quando disse que o Brasil era responsável por 18% dos volumes de farelo de soja.

A previsão é que o Brasil produza um recorde de cerca de 170 milhões de toneladas métricas de soja em sua próxima safra, em comparação com 125 milhões de toneladas métricas cultivadas nos Estados Unidos, país que foi ultrapassado pelos brasileiros há alguns anos.

A potência agrícola é a maior produtora mundial de soja e à medida que a Europa corta suas importações, as remessas para a China cresceram para uma média de mais de um milhão de toneladas por semana.

Em 2019, a Nestlé, que atua no ramo da Danone, parou de comprar soja brasileira da gigante de commodities Cargill. A rival Unilever, que usa óleo de soja em seus condimentos Hellmann’s e produtos Knorr, ainda obtém soja do Brasil e diz que seu fornecedor, CJ Selecta, cumpre com rigorosos requisitos de desmatamento zero.

O Brasil lidera a destruição de florestas tropicais, mesmo depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter assumido o cargo em 2023 e as taxas de desmatamento na parte do país da selva amazônica caírem em mais da metade.

Enquanto os principais comerciantes prometeram parar de obter soja de terras recém desmatadas na floresta amazônica, o cultivo de soja continua sendo um grande impulsionador do desmatamento do Cerrado.

Cerca de 10% das emissões globais vêm do desmatamento.

Indústrias e governos disseram que as novas regras da UE irão interromper as cadeias de suprimentos, excluir agricultores pobres e de pequena escala do mercado da UE e aumentar o custo dos alimentos básicos porque muitos agricultores e fornecedores não estavam prontos para cumprir.