A seca na região amazônica encareceu o açaí em 70% e a alta deve chegar logo aos consumidores, afirma Fábio Carvalho, CEO da Frooty, uma das líderes do mercado de produtos industrializados a base do fruto.

“Não vai demorar muito não”, diz o executivo. “Porque quando você tem um aumento de 10% ou 20% é uma coisa. Com mais 70% no seu principal insumo – porque você pega qualquer sorbet, tem muito de açaí – é impossível não ser repassado.”

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Os açaizeiros, árvores das quais o fruto do açaí é colhido, são palmeiras que consomem grandes quantidades de água — cerca de 100 a 120 litros por dia, segundo relatório técnico da Embrapa. Seu crescimento é originário das regiões de alagamento da Amazônia. Daí o impacto da seca na produção e nos preços.

A alta dos preços deverá ser sentida com mais intensidade nos estados no norte do país, onde o açaí integra a dieta cotidiana das comunidades. Segundo dados do IBGE, o Amapá é o estado com maior consumo de polpa do fruto no país, cerca de 26 litros anuais por pessoa. Em seguida, está o Pará com 16 litros.

O preço do açaí para os consumidores acumula alta de 20,89% no ano, até outubro, de acordo com os números do IPCA-15 do IBGE.

Açaí virou produto de consumo global

A seca chega em um momento de grande consumo dos produtos a base de açaí no Brasil e no mundo. Segundo relatório da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), a produção cresceu de 145,8 mil toneladas em 1987 para 1,9 milhão de toneladas em 2022, um aumento impressionante de mais de 13 vezes em 36 anos.

Quando se fala de exportação, o açaí saltou de 1.994 quilogramas líquidos em 2018 para 62.110 em 2024 até agora, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) acessados pela plataforma Comextat.

“O mercado americano de açaí já é maior do que o brasileiro”, diz Carvalho. “O mercado da Austrália é talvez o que tenha maior consumo per capita do mundo. […] E tem novas fronteiras que estão acelerando [sic] muito rápido com a Europa, Ásia, Oriente Médio.”

Açaízeiro. Crédito: Giorgio Venturieri/Embrapa

Vai faltar açaí?

Segundo o executivo, as reservas mais próximas de Belém e de Manaus, as capitais amazônicas, já são insuficientes para atender a demanda mundial. As empresas buscam o fruto floresta adentro ou levam suas fábricas para lá, o que aumenta os custos.

“Açaí tem, mas está ficando mais caro, porque cada vez está mais longe”, afirma Carvalho. “É uma realidade de mercado. Todo mundo está passando pela mesma dificuldade.”

A Frooty possui duas fábricas dedicadas em Humaitá (interior do Amazonas) e em Breves (na ilha do Marajó, no Pará) para produção da base de açaí com água usada no sorbet, o doce gelado que se popularizou pelo mundo. Também compra esta polpa de outras duas fábricas em Mocajuba (PA) e Manacapuru (AM).

Segundo levantamento da Scanntech, a empresa possui a segunda e a terceira marcas de sorbet do fruto mais vendidas no país, a homônima Frooty e a Split. Em primeiro lugar no ranking está a Polpanorte.

Cultivo é concentrado nas regiões de cheias

Segundo dados da Fepasa, o açaí cultivado já representa a maior parte da produção nacional hoje: cerca de 87,4% do total. No entanto, segundo Carvalho, seu cultivo continua a ocorrer nas regiões de cheias da floresta amazônica.

O motivo é justamente a enorme quantidade de água consumida pelas plantas. Assim, o CEO afirma que grandes fazendas com irrigação ainda são um projeto experimental.

Carvalho acredita porém que as grandes plantações serão uma realidade mais comum em breve. “Isso é um fenômeno que está começando”, diz. “Vai ser inevitável ter fazenda de açaí. E não perde qualidade, se você irrigar direitinho, o sabor vai ser muito parecido.”