01/01/2009 - 0:00
Com 26 anos de experiência e milhares de pregões no currículo, Paulo Horto é hoje sem dúvida nenhuma um dos maiores especialistas em leilões no Brasil. Em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, o empreendedor faz uma análise do circuito de leilões no País e destaca os grandes momentos de 2008.
DINHEIRO RURAL – Qual o balanço dos leilões realizados no ano passado?
PAULO HORTO – Tivemos um ano muito positivo, com liquidez, aumento em médias e faturamento nos remates de reprodutores e fêmeas de pista. Apenas a média dos leilões de prenhezes teve uma pequena queda. Por outro lado, a quantidade comercializada foi maior. Esse é um setor que vem amadurecendo muito nos últimos anos e se tornando cada vez mais competitivo.
RURAL – Quais os números de 2008?
HORTO – Nós realizamos 434 remates de diversas raças bovinas, equinas e ovinas. Em 2007, foram 419 leilões. Entre gado de corte e PO (puro de origem) foram ofertados 32.845 animais. Um crescimento de 21,75% em comparação com 2007. O faturamento anual também superou em 8,14% a receita anterior.
RURAL – Além do nelore, quais as raças que merecem destaque especial?
HORTO – É obvio que a Programa Leilões tem uma relação muito grande com o nelore, pois é o carro-chefe da pecuária brasileira, mas existem outras raças que brilharam em 2008, como o gir, brahman, guzerá, mangalarga, mangalarga marchador, quarto-de-milha, santa inês e dorper.
RURAL – Podemos dizer que foi iniciada uma nova era para o gir leiteiro?
HORTO – Com certeza. O leilão Gir das Américas, realizado no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, foi um divisor de águas para a raça. Grandes lideranças do setor ingressaram nesse mercado. O gir é uma raça maravilhosa. Assim como o nelore ajudou o Brasil a se tornar o maior exportador mundial de carne bovina, o gir está contribuindo para a nossa produção de leite.
RURAL – Como o sr. avalia o mercado de touros?
HORTO – Foi o melhor ano dos últimos tempos para esse mercado, com excelentes negócios e demanda firme. Os reprodutores avaliados por programas de melhoramento genético passaram a ser ainda mais exigidos, o que sem dúvida é muito positivo. A quantidade de lotes, a qualidade e o faturamento foram bem superiores em relação a 2007.
RURAL – Quais os principais diferenciais dos remates realizados no ano passado?
HORTO – Como sempre digo, o mercado está exigindo qualidade máxima, separando o joio do trigo. Da base ao topo da pirâmide, este foi e deve continuar sendo o grande diferencial. Também é notória a valorização de animais premiados em pista e descendentes de doadoras e reprodutores com produção comprovada.
RURAL – Quais os momentos mais marcantes de 2008?
HORTO – Tivemos muitos pontos altos, recordes de preços e inovações, como a holografia que projeta imagens tridimensionais das doadoras em tamanho real. Particularmente, vou mencionar dois eventos com excelente repercussão: a Expoinel, em Mato Grosso do Sul, e a Fenagro, na Bahia. Ambos aconteceram após a crise financeira mundial, mas mesmo assim tiveram um faturamento maior do que nas edições anteriores e contaram com a presença dos melhores animais de elite e de criadores de todo o País.
RURAL – Afinal, a turbulência econômica chegou a comprometer o setor?
HORTO – A pecuária seletiva não foi atingida pela crise. Os reflexos que notamos, nos últimos meses do ano passado, foram na pecuária de corte, principalmente nos preços do boi gordo e dos bezerros. Talvez isso tenha ocorrido pela dificuldade de exportação dos frigoríficos, pois o consumo interno aumentou. De qualquer forma, eu acredito que toda crise tem seu lado positivo e quem continuou investindo em genética de ponta neste ano vai colher bons frutos em 2009.
DINHEIRO – O momento, então, é de otimismo, cautela ou preocupação?
HORTO – Eu diria que o momento é de otimismo. O Brasil é um país de vocação nata para o agronegócio. A classe de especuladores, graças a Deus, é minoria. O pecuarista brasileiro vive do seu trabalho e esse setor que gera renda, riquezas e empregos para milhares de pessoas é a nossa grande vocação. Já dizia o velho ditado caipira: “Segura no rabo do boi, pois ele só anda pra frente.”
DINHEIRO – Quais as perspectivas para este novo ano?
HORTO – Estou muito otimista para o ano de 2009. O mercado como um todo deve passar por uma depuração e, com isso, trazer resultados ainda mais positivos. Independentemente das adversidades, creio no poder que o setor tem de transformar algo que já é bom em algo ainda melhor. Aposto minhas fichas que 2009 será um ano ainda mais glorioso para a pecuária.
Destaque rural
Confira abaixo os animais que mais se destacaram no circuito dos leilões de elite em 2008 e foram responsáveis pelas maiores cotações do ano
Duas doadoras que “levantam poeira”
Entre os 25 lotes duplos do Leilão Levanta Poeira, o mais valorizado reuniu duas Grandes Campeãs Nacionais: Betina e Essência, doadoras que já produziram vários animais de destaque nas pistas de julgamento e nos leilões. Os criadores Austré Lemos e Sylvio Propheta arremataram as prenhezes por R$ 644 mil. O lote foi disponibilizado pela Agropecuária Palma e Unimar.
Tal mãe, tal filha
O que todos os selecionadores buscam é produzir filhos melhores que os pais. E a Elegance II, fêmea recorde de preço em 2008, mostra que está seguindo a mesma carreira vitoriosa da mãe. Ela é filha da Grande Campeã Nacional Essência TE Guadalupe, uma das matriarcas mais consagradas da raça nelore. Elegance II, que também tem em seu currículo o título de Grande Campeã, foi vendida 33% no Leilão Mata Velha por R$ R$ 1,428 milhão.
Touro de R$ 2 milhões
Ranchi Ipê Ouro foi uma das estrelas do Leilão Guadalupe 2008. O touro, de propriedade do criador Arnaldo Manoel Machado Borges, foi vendido 50% pelo valor de R$ 1 milhão. Os compradores foram Nelore Ouro Fino e CRV Lagoa. Aos 11 anos de idade, Ranchi já teve comercializadas mais de 261 mil doses de sêmen. O que lhe garantiu o troféu Palheta de Ouro. Hoje, uma dose de sêmen do reprodutor custa R$ 70 na central CRV Lagoa.