Os juros fecharam a sessão desta quarta-feira em leve alta nos contratos de médio e longo prazos e perto da estabilidade na ponta curta. O sinal foi definido somente no meio da tarde, em função da movimentação dos players para o leilão de prefixados da quinta-feira. 3. Até então, percorriam a quarta-feira rondando os ajustes de terça, não se deixando levar pelo bom humor externo, nem pela queda do dólar e do risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS, em inglês).

O mercado esteve dividido entre fatores positivos e negativos. De um lado, a melhora na perspectiva fiscal e da agenda econômica trazida desde a terça pela expectativa em torno da reforma administrativa e pela aprovação da Lei do Gás na Câmara. De outro, dois índices de inflação surpreendentes (IPC-Fipe e IPP) na agenda do dia e otimismo sobre o ritmo da atividade. Uma vez que na terça as taxas já devolveram bastante prêmio, o saldo foi um movimento lateralizado na maior parte do dia.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu a 2,83% (máxima), ante 2,793% no ajuste anterior. A do janeiro 2023 foi de 3,964% a 4,01%. E o janeiro 2027 passou de 6,743% para 6,790% (máxima). O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 5,82%, de 5,774% na terça.

Como tem sido frequente desde julho, quando o Tesouro passou a ofertar lotes gigantes de prefixados nos leilões de quinta, o mercado um dia antes já começou a montar posições, seja de hedge seja para obter taxas mais atrativas na operação.

Ao longo do dia, no entanto, não houve trajetória firme. “Já tivemos ontem um ajuste razoável e hoje, resultados inflacionários que pesaram. Isso está segurando um pouco as taxas, além do fato de o mercado estar mais animado com a atividade”, afirmou o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.

Em contrapartida, ele diz que o ambiente político é mais positivo, indicando dificuldade menor para o avanço da agenda de reformas. “Parece haver mais disposição de governo e Congresso de fazer a negociação, permitindo alguma pressão fiscal no curto prazo em troca da melhora de ambiente de negócios e mudanças estruturais de longo prazo. É a melhor alternativa na atual circunstância em que o quadro político não permite tanta austeridade”, disse.

Já a agenda reforçou a percepção de que pode não haver mesmo espaço para mais cortes da Selic. Há alguns dias, o tema da inflação vem ganhando espaço na pauta do mercado, dado o desempenho ruim dos preços no atacado e os sinais de recuperação da atividade, o que já tem impactos nítidos por exemplo nas negociações com NTN-B no secundários.

Nesta quarta, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) informou que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de agosto subiu 0,78%, mais de três vezes a inflação de julho (0,25%), estourando em grande margem o teto das estimativas dos analistas (0,67%). Outro susto veio do Índice de Preços ao Produtor (IPP) de julho, que avançou 3,22%, a maior variação positiva da série histórica, iniciada em janeiro de 2014.