30/09/2020 - 12:05
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de um inquérito para apurar se a deputada federal e candidata a prefeita de São Paulo, Joice Hasselmann (PSL), usou funcionários lotados em seu gabinete na Câmara para criar perfis falsos nas redes sociais a fim de atacar adversários políticos.
Em ofício encaminhado ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), no final de agosto, o chefe do Ministério Público Federal pede que sejam ouvidos os assessores Marcelo Marinho de Farias e Jean Hernani Guimarães Vilela.
“Os fatos noticiados são relativos ao exercício do cargo público, dado que, em tese, foram praticados pela Deputada Federal Joice Hasselmann e por servidores de seu Gabinete, sob seu comando, num contexto de disputa com adversários políticos. De outro lado, os fatos potencialmente criminosos foram cometidos no curso do mandato”, diz um trecho do documento.
Aras se manifestou no âmbito de uma notícia-crime apresentada pela também deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que imputa à colega de Parlamento e partido os crimes de constrangimento ilegal, difamação, falsidade ideológica e associação criminosa com base em relatos de dois ex-funcionários de Joice que acusam a antiga chefe de usar o gabinete para produzir fake news e disparar ataques contra aliados do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à CNN, os ex-auxiliares afirmaram que a equipe era cobrada a fazer ‘montagens de vídeos’, ‘criar narrativas’ e ‘alimentar perfis falsos’ nas redes sociais, supostamente monitorados pela própria parlamentar.
Os principais alvos, segundo os ex-funcionários, seriam desafetos criados após a ruptura da ex-líder do governo com o Planalto e incluíram ex-aliados como a própria Carla Zambelli, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) e os filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Em sua conta no Twitter, Joice chamou Aras de ‘papagaio presidencial’ e ‘boneco de ventrículo do Palácio do Planalto’. A parlamentar acusou o procurador-geral de tentar prejudicar sua candidatura nas eleições municipais deste ano em um ‘lance antecipado para tentar arrematar a nova vaga aberta no STF’ com a aposentadoria do decano Celso de Mello.
Ex-aliada bolsonarista, Joice Hasselmann rompeu com o Planalto depois de um ‘racha’ no PSL que terminou com a debandada dos Bolsonaro do partido. Ela chegou a disputar a liderança da sigla na Câmara, enquanto o presidente articulava para que o caçula na política, Eduardo Bolsonaro, assumisse o posto.
A própria deputada acusa o Planalto e seus aliados de envolvimento em esquemas de disseminação de notícias falsas e discursos de ódio. Em dezembro do ano passado, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News da Câmara dos Deputados, chegou a afirmar que um dos grupos de propagadores de notícias falsas e difamações mais ativos seria o chamado ‘gabinete do ódio’, integrado por assessores especiais da Presidência da República. O grupo seria pautado, segundo ela, pelos filhos do presidente, Eduardo e Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e pelo ‘guru’ Olavo de Carvalho.
Após apoiadores bolsonaristas terem computadores, documentos e celulares apreendidos como provas no inquérito nas fake news, Joice voltou a atacar o governo. A deputada afirmou que ‘no fim da linha do esquema’ investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) está o Palácio do Planalto. Segundo ela, ‘o esquema de produção de ataques e mentiras contra adversários políticos e a democracia’ envolve dinheiro público de gabinetes de políticos ligados à família Bolsonaro e recursos de empresários com trânsito constante no Palácio do Planalto.
COM A PALAVRA, JOICE HASSELMANN
“O Procurador Geral da República, Augusto Aras, está dando um lance no leilão para a vaga que se abrirá no Supremo. Fica claro e evidente que o Procurador está sendo boneco de ventríloquo dos meus desafetos políticos lotados no Palácio do Planalto, em função da minha candidatura à Prefeitura de São Paulo. Beira a criminalidade o uso da mais alta instância do Ministério Público como instrumento político de perseguição com escancarada subserviência ao Poder Executivo. Isso sim é falsidade ideológica. O Ministério Público não merece tal representante e a lei do abuso de autoridade será invocada.”