Segundo o estudo realizado pelo Itaú Unibanco sobre a recuperação da economia por setores de negócio, segmentos como de vestuário e de eletroeletrônicos estão hoje no meio do caminho entre o “céu e o inferno”. Eles experimentam uma retomada mais forte do que o esperado na ponta da demanda, o que pegou as empresas de surpresa. E o impacto esperado é um possível desabastecimento no curto e longo prazos, com aumento de preços.

“A gente tem visto entre os fabricantes de linha branca uma dificuldade em atender a demanda”, afirma a vice-presidente da área de vinílicos da petroquímica Braskem, Isabel Figueiredo. A empresa fornece, entre outros insumos, resinas e solventes que são usados na produção de geladeiras e fogões.

A própria Braskem enfrenta hoje o desafio de suprir os seus clientes, dado o volume de encomendas. “Depois de operar com 60% de nossa capacidade no início da crise, em agosto e em setembro batemos recorde de produção. Mas o número de pedidos continua crescendo”, diz Isabel.

Para o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da FGV, André Braz, o aumento na procura por itens de linha branca e eletrodomésticos já é sentido nos preços da categoria. “A gente ainda não sabe se isso é desvio padrão, o que representa esse aumento. Mas as pessoas estão comprando mais. Talvez, dado que eu não podia comprar uma viagem aérea, não podia ir em uma viagem, não podia ir ao cinema e ao teatro, eu troquei a geladeira, troquei o fogão e máquina de lavar. Esses itens da linha branca subiram muito”, afirma.

Com dificuldades em atender os pedidos, grandes varejistas já falam reservadamente na falta de alguns itens nos estoques. Eles já se preocupam se conseguirão abastecer as gôndolas para a Black Friday, que acontece na última quinta-feira do mês de novembro e é aguardada com ânimo por uma boa parte desse setor.

“Não tenho dúvida de que teremos uma Black Friday mais fraca neste ano, porque não teremos produtos. A procura por linhas de informática, celulares e toda a linha branca cresceu muito durante a pandemia. E os fornecedores já nos avisaram que vamos ter uma entrega mais lenta daqui para a frente”, diz o executivo de um grande varejista.

Altos-fornos

A cadeia de siderurgia também passa por um momento semelhante. Depois dos primeiros meses com produção mínima, as empresas começam a, gradualmente, religar os altos-fornos. Segundo o economista do Itaú Unibanco Pedro Renault, as plantas operam hoje com utilização de cerca de 60% da capacidade.

O cenário é bem positivo no que diz respeito à demanda por aços longos, empregados na construção civil. “Espera-se aumento do consumo de aços longos na comparação do total de 2020 com 2019, mas a produção será menor. No geral, as empresas se prepararam para um cenário de demanda muito pior, gerando a mencionada pressão sobre estoques”, afirma Renault. Ao longo dessa cadeia, já se observa dificuldade para se encontrar produtos com prazo de entrega inferior a 90 dias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.