10/11/2020 - 12:00
Depois do encontro com o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, no último dia 30, o apresentador de TV Luciano Huck almoçou ontem com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em sua casa no Rio. Nos últimos meses, Huck tem estreitado sua relação com DEM e mantido conversas frequentes com Maia e o presidente nacional do DEM, ACM Neto, prefeito de Salvador. Maia estava no grupo que pretendia lançar Huck em 2018.
A ideia dos apoiadores de projeto de Huck é construir uma frente de centro para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro daqui dois anos. Até agora, os movimentos esbarraram em disputas sobre o nome capaz de liderar uma chapa assim.
Após o encontro, Maia minimizou o peso político do almoço e disse que ainda é cedo para fazer alianças pensando em 2022. “Almoço com Luciano quase todas as semanas que venho ao Rio de Janeiro”, afirmou, em entrevista à rede CNN. “Estamos discutindo muito mais cenários de curto prazo do que preocupação com o projeto eleitoral”, disse o presidente da Câmara.
Para alguns interlocutores, a reunião foi uma tentativa de Huck diminuir o estrago causado pela divulgação do encontro com Moro e reafirmar sua proximidade com a ideia de centro.
Como o Estadão mostrou ontem, até articuladores do projeto eleitoral de Huck viram com ressalvas a aproximação com Moro. Para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), com quem o apresentador havia se reunido no início do ano, Huck “explode pontes” com a esquerda ao se aproximar do ex-ministro. Embora tenha rompido com o presidente Jair Bolsonaro, em abril, Moro é visto por alguns interlocutores como alguém muito ligado à direita, o que poderia prejudicar o discurso centrista.
Sobre a união de forças políticas, Maia afirmou que isso irá depender do caminho que o governo construir para os próximos seis meses. “É o que vai organizar esse campo da centro-direita, centro-esquerda”, disse o presidente da Câmara. Maia já disse ser contra compor uma chapa com Moro. O DEM alinhavou um acordo para apoiar a candidatura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), à sucessão de Bolsonaro, mas isso pode. O deputado vem dizendo que o governador paulista não é unanimidade no partido. Em entrevista à Veja, no fim de semana, ele afirmou que a maioria do DEM, atualmente, prefere Huck a Doria.
Jantar
Doria também se reuniu com Moro recentemente. No encontro, que ocorreu em São Paulo em setembro , os dois concordaram com a tese de construir desde já um polo de centro para fazer frente ao “extremismo” de direita representado por Bolsonaro. A reunião foi revelada ontem pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo Estadão.
Potencial candidato do PSDB à Presidência, Doria adotou um tom mais moderado no discurso e agora prega o diálogo com a esquerda e a direita para isolar os extremos. A reportagem apurou que Doria e Huck também tem mantido contato frequente pelo WhatsApp e que o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM). O debate em torno do nome que encabeçaria a chapa de centro está sendo deixado para 2021. O objetivo nesse momento é sinalizar para o mundo político e o mercado que o bolsonarismo caminha para o isolamento. “A gente está conversando. Está todo mundo conversando, como o Lula e o Ciro. O País vive uma polarização, é normal que os que não estejam polarizado no lado A ou B converse”, disse Mandetta ao Estadão. Ainda segundo o ex-ministro, os líderes precisam buscar uma convergência de ideias ante de nomes. “Não há uma candidatura natural.”
Huck faz parte de um grupo que vem discutindo há tempos a formação de uma terceira via para combater Bolsonaro. A ideia foi apadrinhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda em 2018, mas à época não foi adiante. Além de Maia, ACM Neto e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), são entusiastas da ideia de união contra o bolsonarismo, em 2022. “Mas, na hora em que se coloca o Moro no meio disso, muda esse perfil. É impossível imaginar que algum segmento mais à esquerda ou centro-esquerda vá dialogar com o Moro, até mesmo por causa do protagonismo que ele teve para gerar o bolsonarismo”, disse Dino ao Estadão/Broadcast. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.