27/11/2020 - 11:55
A Operação Canal Seguro, deflagrada nesta quinta-feira, 26, pela Polícia Federal em São Paulo, é mais uma que teve como ponto de partida informações prestadas pelos advogados Luiz Carlos da Fonseca Claro e Gabriel Silveira da Fonseca Claro, pai e filho, em delação premiada homologada pela Justiça.
Nos depoimentos, eles revelaram aos investigadores como usaram o escritório de advocacia e outras empresas controladas pela família para servir a companhias interessadas em lavar dinheiro. Os relatos envolveram, por exemplo, o consórcio de limpeza urbana Soma na Operação Chorume, o Grupo CVC Turismo na Operação Checkout, a empresa Cemig Geração e Transmissão na Operação ‘E o Vento Levou’, as empresas Allied, Qualicorp e Rimo Entertainment na Operação Triuno, a estatal de tecnologia Ceitec na Operação Silício e o banco BMG na Operação Macchiato. Todas são desdobramentos da Operação Descarte, deflagrada em março de 2018.
Nesta etapa, a Polícia Federal investiga a corretora Wiz Soluções, que detém exclusividade na venda de seguros anunciados pela Caixa Seguradora, cuja acionista minoritária é a Caixa Econômica Federal. Para o delegado Fabrício de Souza Costa, que coordena a investigação, há indícios dos crimes de gestão fraudulenta, desvio de valores de instituição financeira e lavagem de dinheiro.
Os investigadores apontam que, entre 2014 e 2016, os dirigentes da Wiz Soluções, Alexandre Siqueira Monteiro, Thierry Marc Claude Claudon e Camilo Godoy, teriam desviado valores que podem chegar a R$ 28,3 milhões através de pagamentos por serviços superfaturados ou que na verdade não foram prestados. Estão sob suspeita contratos firmados com os escritórios de advocacia Claro Advogados e Calazans Advogados, do também delator Flávio Calazans de Freitas, e com as empresas Marthi Serviços Especializados de Apoio Administrativo, AM Consultores e Habseg Administração e Corretagem de Seguros. Parte deles teria sido intermediada pelo empresário Milton Lyra, apontado como operador do MDB, e pelo advogado Daniel Peixoto. O valor pago seria devolvido em espécie.
“Verdadeira organização criminosa estabelecida para gestão fraudulenta, desvios de valores de Instituição Financeira e branqueamento de capitais”, diz a representação assinada pelo procurador Vicente Solari de Moraes Rego Mandetta e enviada no início de outubro à Justiça para obter autorização ao cumprimento de 13 mandados de busca e apreensão na manhã de hoje, ao bloqueio de bens e valores dos investigados na ordem de R$ 27 milhões e ao afastamento dos diretores da Wiz.
Na última segunda-feira, 23, ao autorizar as medidas solicitadas pelo Ministério Público Federal em São Paulo, a juíza Michelle Camino Mickelberg, substituta na 2ª Vara Criminal Federal, considerou que os documentos obtidos pela Polícia Federal em etapas anteriores da investigação e os levantamentos elaborados pela Receita Federal detalhando movimentações suspeitas dos investigados seriam indícios dos ‘negócios escusos’ e justificariam as ordens expedidas.
O objetivo das buscas foi, segundo a Polícia Federal, aprofundar as investigações sobre as supostas camadas de lavagem de dinheiro que envolveriam uma série de pessoas físicas e jurídicas interpostas para chegar aos beneficiários dos desvios.
COM A PALAVRA, A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
“A CAIXA informa que a CAIXA Seguros Holding – companhia a qual sua subsidiária CAIXA Seguridade Participações SA é sócia minoritária – e a Wiz Soluções e Corretagem de Seguros SA possuem contrato operacional para corretagem de seguros no balcão do banco firmado anteriormente à atual gestão, com encerramento em 14/02/2021.
A CAIXA esclarece que, a partir de decisão da atual gestão do banco, a CAIXA Seguridade já constituiu corretora de seguros 100% própria, cuja operação está prevista para se iniciar a partir de 04/01/2021.
Ademais, a CAIXA, por meio da CAIXA Seguridade Participações SA, é acionista minoritária e indireta (com cerca de 12%) da Wiz, não possuindo controle sobre a companhia.”
COM A PALAVRA, A WIZ
“A Wiz Soluções e Corretagem de Seguros S.A. vem informar aos seus acionistas e ao mercado em geral que na manhã de hoje é realizada busca e apreensão de documentos e material na sede da Companhia, em desdobramento à Operação Descarte, em cumprimento à decisão da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo, visando apurar fatos ocorridos no período entre 2014 e 2016.
A Wiz esclarece que desconhece qualquer indício da prática dos ilícitos investigados e adotará as medidas necessárias para a apuração completa dos fatos alegados, bem como se colocar sempre disposição das autoridades para colaborar com as investigações e prestar quaisquer esclarecimentos necessários para a devida apuração dos fatos. A Companhia reafirma seu compromisso com a ética e a transparência, e manterá seus acionistas e o mercado em geral informados acerca dos temas em questão.”
COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS
Até a publicação desta matéria, a reportagem buscou contato com os demais citados, mas sem sucesso. O espaço permanece aberto a manifestações.