Brasil vai se tornar o maior produtor e exportador de soja do mundo. Essa é a previsão que está na ponta da língua de consultores, produtores e representantes de entidades ligadas ao setor. No final de setembro, a estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês) para a safra 2012/2013 da soja brasileira, era de 81 milhões de toneladas. Segundo Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), com o cenário positivo dos preços internacionais, o levantamento do Usda confirma a tendência já observada no País. “Os produtores devem plantar mais, motivados pela alta dos preços, mas também pela severa seca que atingiu os Estados Unidos”, diz Silveira. Os americanos, além de produzirem menos milho (leia a reportagem de capa desta edição, na pág. 50), também deixam de colher nesta safra 12 milhões de toneladas de soja. “Estamos na década da soja brasileira”, diz Silveira.

Com os 81 milhões de toneladas previstos pela primeira vez o Brasil vai ultrapassar os Estados Unidos, que até então eram o maior produtor mundial no cultivo de soja. Segundo o Usda, a safra americana deve ser de 71,7 milhões de toneladas. Para o Brasil, a consultoria Safras & Mercados, de Porto Alegre, é ainda mais otimista que o Usda. Seus analistas acreditam que o País vai produzir 82,2 milhões de toneladas do grão. O Centro-Oeste, que começou o plantio da soja na última semana desetembro, quando as chuvas começaram a cair na região, espera por sua mais rentável safra. O Estado, maior produtor nacional, deve ampliar a área cultivada em 12% em relação à safra anterior, passando de 7,1 milhões de hectares para 7,9 milhões. O Paraná também está aumentando em 4% a área, o que significa que 80% do espaço destinado à agricultura no Estado deve ser ocupado pela soja. No Paraná, a área plantada de 4,5 milhões de hectares também é recorde. O Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor do País, terá expansão de 6%, totalizando 4,4 milhões de hectares.“Muitos produtores estão substituindo as pastagens degradadas por soja”, diz Silveira. A expansão também deve acontecer com a conversão de áreas de milho, produção que está migrando para a bem-sucedida safrinha, ou segunda safra.

Em relação aos preços futuros, a expectativa é de que os produtores brasileiros não sofram perdas significativas, mesmo que os preços recuem um pouco por causa da maior oferta da oleaginosa, e também pela concorrência com a Argentina, que é atualmente o terceiro maior produtor mundial, com uma safra que deve alcançar 55 milhões de toneladas. No Brasil, vários fazendeiros se anteciparam e venderam parte da safra. A Safras & Mercado estima que até o dia 10 de setembro os produtores haviam comercializado 43% da lavoura que está sendo plantada. Na safra passada, para o mesmo período, a antecipação de vendas foi de 22% do total colhi do. O levantamento inclui todas as formas de comercialização, como as trocas or insumos e renegociações de perdas da safra 2011/2012. Segundo a consultoria, em agosto, a média nacional de preços era de R$ 78,15 por saca de soja. No mesmo mês do ano passado, a saca era vendida, em média, por R$ 44,11, o que representa um aumento excepcional de 77%.

O alto preço da soja reflete em parte o custo mais elevado de produção para esta safra, de acordo com Cleber Noronha, analista de grãos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), de Cuiabá. “De janeiro a agosto, os preços dos insumos aumentaram 22%”, diz. “Como a soja dá sinais de valorização, o produtor investe mais na compra de adubos e fertilizantes.” A exemplo de Noronha, Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), acredita que a demanda pelo grão seguirá aquecida. Boa parte das exportações do complexo soja, incluindo grãos, farelo e óleo, está sendo embarcada para o mercado chinês. Nas últimas três safras, as vendas para a China quase dobraram, passando de 12,5 mil toneladas para 22,7 mil toneladas, um crescimento de 81,5%. A receita passou de US$ 6,1 bilhões para US$ 11,7 bilhões, um crescimento de mais de 90% no período, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A estimativa é de que o Brasil também ultrapasse as exportações dos Estados Unidos. Segundo a Abiove, o Brasil pode exportar 37,5 milhões de toneladas durante a safra 2012/2013, enquanto os Estados Unidos devem exportar 28,7 milhões de toneladas. “Teremos um efeito social e econômico interessante com o aumento das vendas externas de soja”, diz Trigueirinho. “Com elas, há um aumento considerável da renda no interior do País, que vai para todos os setores da economia.”