A Marinho Agropecuária, também conhecida como grupo Ema, opera 12 fazendas no Pantanal matogrossense, que ocupam uma área de 93 mil hectares. As fazendas são administradas pelos irmãos Daniel Barros Marinho, veterinário, e Guilherme Marinho, agrônomo, herdeiros de uma família que está radicada na região de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, há mais de um século. “Minha mãe é descendente de colonizadores que desbravaram o Pantanal, em 1880”, diz Daniel. Desde sua criação, em 1986, o grupo Ema, é referência em investimentos em gado de corte no País. Mesmo assim, os irmãos não escaparam de uma saia justa em 2005, quando houve no Estado um surto de febre aftosa. “Nessa época, foram proibidas as exportações de carne da região e o gado abatido não podia sair do Estado”, diz Guilherme.

O que parecia um beco sem saída para os irmãos Barros Marinho acabou determinando uma benéfica mudança radical na gestão das fazendas. Hoje, do total de 12 mil animais prontos anualmente para o abate, apenas os machos, que representam a metade da produção, são encaminhados ao frigorífico do JBSFriboi, em Campo Grande. Com as fêmeas, os irmãos verticalizaram o negócio. Hoje, elas são abatidas em um frigorífico da cidade e distribuídas em cerca de 30 açougues da região, além de abastecer dois açougues próprios do grupo. “Foi um desafio ir até o mercado consumidor”, diz Guilherme. Mas os ganhos compensam: no fim das contas, os irmãos conseguem pelas fêmeas um retorno financeiro equivalente ao obtido com a venda dos machos. “Hoje, na distribuição, temos uma receita bruta de R$ 6,40 pelo quilo da fêmea, preço que transformado em arroba fica muito próximo da cotação do boi gordo, na faixa de R$ 96 por arroba.” Se vendessem as fêmeas ainda vivas para frigoríficos do Estado, eles receberiam R$ 89 por arroba.

As fazendas do  grupo Ema se localizam em regiões altas do Pantanal, raramente são afetadas por enchentes no período das águas, e também em platôs que alagam todos os anos. A logística estabelecida pelos irmãos, que realizam o ciclo completo na pecuária, é criar os bezerros na parte baixa do Pantanal. À medida que vão crescendo, eles são deslocados para fazendas próximas da cidade de Corumbá, uma região mais alta, o que facilita o manejo dos animais adultos. Para escoar o gado das fazendas de criação, são montados grupos de mil animais de até um ano e meio, transportados por barco e mais sete dias de marcha pelas estradas da região. “Já foi pior”, diz Daniel. “Até o ano passado, demorávamos 40 dias para tirar os animais das fazendas porque as comitivas faziam todo o percurso por estradas.” Em 2011, em parceria com o pecuarista Armando Lacerda, também criador de gado na região, eles investiram na reforma de um porto para que os animais pudessem embarcar em balsas que navegam pelo rio Paraguai. “Hoje, do porto até Corumbá são apenas 12 horas de barco”, diz Daniel.

A maior das 12 fazendas do grupo é a Perdizes, que ocupa uma área de 33,5 mil hectares dedicados à criação de bezerros. Mas, o xodó dos irmãos é a fazenda Primavera, de 2,5 mil hectares. Nela está o gado puro, que tem sido melhorado nos últimos anos com o objetivo de produzir touros. São 1,3 mil vacas, mães de 400 reprodutores tirados desse plantel todos os anos e que recebem do ministério da Agricultura Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip). “Assim, garantimos que esses são os nossos melhores animais”, diz Guilherme. Além disso, os irmãos começaram, no início deste ano, a produzir animais através de fertilização in vitro (FIV), para acelerar o trabalho de melhoria genética do plantel. “Queremos chegar a duas mil fêmeas top”, diz Guilherme

Outra técnica da moderna pecuária empregada nas fazendas é a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em outras 12 mil fêmeas. Na IA TF é usado sêmen de touros da raça angus nas vacas nelore, que são a base da criação. Para o pesquisador Urbano Abreu, da Embrapa Pantanal, de Corumbá, o grupo Ema está entre as empresas mais tecnificadas da região. “O trabalho nas fazendas mostra que é possível ter uma pecuária rentável e produtiva”, diz Abreu. “O que os irmãos Barros Marinho conseguem fazer no Pantanal não deixa nada a desejar, se comparado às fazendas de regiões fora desse bioma.” O Pantanal sempre foi identificado como uma região propícia para a cria e desaconselhada para a engorda de animais. “De modo geral, no Pantanal demoram até quatro anos para chegar ao ponto de abate”, diz Abreu. “Mas o grupo Ema está desmentindo essa tese.” Na média, seus animais são abatidos com 3 anos, mas os mais precoces ficam prontos em dois anos apenas.

A gestão refinada dos irmãos levou a Embrapa Pantanal a propor diversas parcerias. Nas fazendas, os pesquisadores da estatal desenvolvem trabalhos para melhorar o capim nativo da região, testam técnicas reprodutivas e experimentam produtos veterinários. Para Guilherme, essa é uma estrada de mão dupla. “Também aproveitamos no rebanho aquilo que dá certo nas pesquisas”, diz o criador. “Na Ema já foram desenvolvidas até teses de mestrado e doutorado que mostram como produzir na região.”