01/05/2012 - 0:00
A CADEIA DA BRANQUINHA
VEJA QUANTO O MERCADO DA CACHAÇA MOVIMENTA
Produção: 700 milhões de litros
Receita: R$ 2 b ilhões
Export ações: 9,8 milhões de litros, por US$ 17,3 milhões
Produtores: 40 mil
Marcas: 4 mil rótulos
Fonte: Ibrac e MDIC
Há dois anos, um caminhão de cor verde-limão, com um alto-falante que tocava bossa nova, circulava pelas ruas de Miami, Los Angeles e Nova York, distribuindo nas praias, parques e calçadas, caldo de cana e um convite para que as pessoas assinassem um manifesto. Nos bares e boates daquelas cidades, o caldo de cana era trocado por uma caipirinha gelada, mas o manifesto continuava o mesmo: um pedido ao governo americano para que reconhecesse a cachaça como produto típico brasileiro e não mais como um tipo de “rum brasileiro”, a classificação recebida há mais de uma década naquele país. Na época, a campanha foi uma ação da marca mineira Leblon, fabricada em Patos de Minas pelo produtor Carlos Eduardo Oliveira. Mas esse tipo de campanha não será mais necessária.
INDÚSTRIA: o País tem quatro mil produtores, de pequenos alambiques a gigantes do setor, como a Muller e a IRB
No dia 9 de abril, o acordo assinado entre a presidenta Dilma Rousseff e seu colega Barack Obama, em Washington, em que os Estados Unidos atendiam ao pedido de reconhecimento do produto brasileiro, abriu uma nova etapa para o comércio mundial da bebida – na ocasião, a brasileira presenteou o americano com uma garrafa de uma safra especial da Velho Barreiro. “Agora, vamos pensar em campanhas para aumentar o consumo de cachaça”, diz Cesar Rosa, presidente das Indústrias Reunidas de Bebidas (IRB), dona das marcas Velho Barreiro, Três Fazendas e Tatuzinho, e também presidente do Instituto Brasileiro de Cachaça (Ibrac). O reconhecimento americano faz parte de um processo que ainda está longe de acabar. “Agora, queremos que a Organização Mundial do Comércio (OMC) faça o mesmo que os americanos.”
Há 12 anos, o Brasil tenta aprovar na OMC a denominação de origem para a cachaça. Em paralelo, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) já fez o mesmo pedido à União Europeia e ao Japão. Com essas medidas, o governo brasileiro tenta evitar que aconteça com cachaça o que ocorreu com a vodca russa. A Rússia perdeu o direito exclusivo internacional de utilizar o nome vodca como uma marca do país, por não ter o seu registro na OMC.
Obama concordou com Dilma e atendeu antigo pleito do setor
Para a indústria nacional, com o reconhecimento americano abre-se um enorme potencial para as exportações. “A decisão americana vai funcionar como um passaporte”, diz Rosa. No ano passado, as exportações foram de 9,8 milhões de litros por US$ 17,3 milhões, segundo o MDIC. Os Estados Unidos, o segundo maior cliente do País, compraram 547 mil litros por US$ 1,8 milhão.
Segundo o Ibrac, a produção brasileira é de 700 milhões de litros por ano, dos quais 600 milhões são destinados ao consumo interno. Esse mercado movimenta R$ 2 bilhões, com uma diferença enorme em relação ao mercado de cervejas dominado pelas grandes companhias. Na cachaça, há quatro mil marcas registradas pelo Ministério da Agricultura (Mapa), nas mãos de 40 mil produtores, de pequenos alambiques a gigantes, como a Muller, de Pirassununga (SP), a maior do setor, e a IRB, de Rosa.
Para a cachaça entrar com nome próprio no mercado americano, o Brasil prometeu uma contrapartida ao país, também para bebidas típicas. O governo dos Estados Unidos pediu ao Brasil que reconheça como produtos diferenciados os uísques do Tennessee e do Kentucky. “Nossos uísques, assim como a cachaça, identificam o país”, diz o texano Ronald Kirk, representante de comércio exterior do governo americano. “Eles são a bebido do caubói.” Por ano, o Brasil importa 509 mil litros de uísque americano. O governo dos dois países se espelha na tequila mexicana ao reconhecer a importância da identificação. Em 1974, o México ganhou na OMC o direito da denominação de origem para a sua mais típica bebida, produzida com uma planta que pode levar até dez anos para chegar ao ponto de colheita. Hoje, a Câmara Nacional da Tequila regulamenta um mercado que movimenta US$ 1,5 bilhão por ano, com a venda de 231 milhões de litros da bebida.