Tradicional reduto do Banco do Brasil, o crédito rural vai ganhar um concorrente de peso. E justamente da área estatal. Turbinada pela capitalização de R$ 13 bilhões, anunciada pelo Ministério da Fazenda no dia 21 de setembro, a Caixa Econômica Federal vai lançar as primeiras sementes para financiar o agronegócio. “Ao longo dos próximos 12 meses deveremos conceder R$ 2 bilhões em empréstimos por meio do crédito rural”, diz Jorge Hereda, presidente da Caixa. “O funding virá dos depósitos à vista.”

As metas são ambiciosas: o plano de expansão da Caixa contempla a abertura de cerca de duas mil novas agências, quase dobrando a rede atual de 2.412 pontos, a maioria delas localizada em cidades médias e pequenas. “Vamos ampliar nossa rede onde o agronegócio é forte”, diz. ”Os clientes que queremos conquistar nessas regiões pedem financiamentos rurais”, diz Hereda. Desde o dia 12 de setembro, a Caixa vem operando um projeto piloto em cerca de 70 agências, e daqui para a frente essa experiência deverá ser estendida a mais agências. Atualmente, 90 gerentes estão sendo capacitados na nova modalidade. “Nenhum banco com a capilaridade da Caixa pode se dar ao luxo de não ter todos os produtos”, afirma Hereda. O maior apetite da Caixa vem ao encontro de uma injeção reforçada de recursos no campo. Segundo o Ministério da Agricultura, o governo vai liberar R$ 115,2 bilhões para a agricultura empresarial, por meio do Plano Safra 2012/2013, sem contar os R$ 18 bilhões concedidos ao Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Desses recursos, R$ 86,9 bilhões serão destinados ao custeio e à comercialização. Outros R$ 28,2 bilhões vão para investimentos.

Para alcançar tal cifra, o governo não apenas aumentou a dotação orçamentária como também reduziu em 18,5% os encargos financeiros de suas linhas de crédito para custeio, comercialização e investimento. “Mesmo com o aumento, o valor ainda é insuficiente”, diz Walmir Segatto, superintendente de agronegócios do Banco Santander. Para Segatto, a necessidade de financiamento para a safra 2012/2013 é de R$ 200 bilhões. “A diferença deve ser financiada por linhas suplementares.” Ele cita como exemplo o financiamento pela Cédula de Produto Rural (CRP). O título permite que o agricultor tome dinheiro emprestado, com a garantia da produção futura.

Já o Banco do Brasil aposta na tecnologia. Por meio de uma família de cartões de crédito voltada para o empresário do agronegócio, o banco financia a aquisição de insumos, maquinário e implementos agrícolas. Segundo o banco, até o fim de 2012 a previsão é de que cerca de R$ 11 bilhões em créditos rurais sejam liberados por meio dos cartões, um crescimento de 47%. Pelos dados do primeiro semestre, em junho de 2012 o BB tinha emprestado R$ 94,8 bilhões, um crescimento de 17,6% em relação ao saldo de junho de 2011. O resultado superou a meta, de um crescimento entre 13% e 16% nessa carteira.

Para Segatto, a demanda por crédito rural não deve se restringir ao plantio e à colheita, pois com três anos de resultados muito bons o produtor tem dinheiro em caixa para investir na modernização de suas máquinas. Trata-se de algo que não passou despercebido a Hereda. “O agronegócio vem crescendo a taxas de dois dígitos nos últimos anos, daí a importância de lançarmos esse produto”, afirma o presidente da Caixa. “Mas não vamos competir com o BB como banco agrícola. Nosso forte continuará sendo o financiamento imobiliário.”