18/02/2019 - 15:13
Agronegócio indireto | grandes empresas
A americana do setor de agroquímicos e fertilizantes Albaugh, com sede no Estado de Iwoa, foi criada em 1979 por Dennis Ray Albaugh. No Brasil, ela chegou em 2005, mas até 2016 atuava com o nome de sua subsidiária, Atanor. Naquele ano, quando decidiu comprar da FMC Agrícola, outra multinacional americana do setor, a Consagro, em Campinas (SP), tomou um passo importante para consolidar-se como marca: assumiu, definitivamente, o nome Albaugh e mudou sua sede para a capital paulista. “Não podíamos continuar com outro nome”, diz o agrônomo Renato Seraphim, presidente da Albaugh Brasil. “A história do fundador da empresa, de inovação constante, se parece muito com a história de inovação do agricultor brasileiro”, destaca.
Com experiências em companhias como Bayer e na Syngenta, Seraphim começou na empresa em 2016. À época, sua meta era ambiciosa. Ele assumiu o desafio de elevar o faturamento anual de US$ 90 milhões para US$ 500 milhões. E vem montando um projeto para isso. No ano passado, a Albaugh Brasil faturou US$ 200 milhões, o equivalente a 14,3% da receita global, que foi de US$ 1,4 bilhão. Na composição acionária da multinacional, Dennis Albaugh detém 80% e a chinesa Nutrichem, 20%. No Brasil, para 2018, Seraphim acredita que vai fechar a conta com faturamento de US$ 250 milhões. A meta inicial proposta – de US$ 500 milhões – é esperada para 2021, ano em que os executivos da companhia acreditam chegar a 5% do mercado nacional. No ano passado, a venda de agroquímicos movimentou US$ 8,8 bilhões no Brasil, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
A disposição em assumir riscos e desenvolver políticas de atração de mercado levou a Albaugh Brasil a ser a campeã na categoria Agronegócio Indireto – Grandes Empresas, do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018. Na categoria, ela obteve a melhor pontuação em Gestão Financeira e também em Gestão Corporativa. Entre as empresas e cooperativas que participaram do prêmio, foi a única a ficar em primeiro lugar nas duas áreas avaliadas. “Colocamos no nosso DNA o propósito de produzir algo de alta qualidade e com baixo custo para o agricultor brasileiro, que é um herói da nossa história”, diz Seraphim. “Mas nós podemos ajudá-lo, não a produzir 6 sacos de soja e gastar 90 com insumos, mas a produzir 30 e gastar 10”. Para o executivo, o valor do crescimento da companhia tem se pautado pelo foco no cliente.
A Albaugh foi a primeira no Brasil a se assumir como uma companhia exclusivamente destinada à venda de produtos genéricos.
Essa linha de produtos, como herbicida, fungicida, inseticida e tratamento de sementes, tem suas patentes expiradas e, por isso, seu comércio é liberado para qualquer empresa. Entre eles, está, por exemplo, o herbicida glifosato, utilizado nas lavouras transgênicas e que, até o ano 2000, era exclusivo da também americana Monsanto. “Eu disse que nós seríamos os primeiros a se assumir nesse mercado”, afirma Seraphim. “E foi isso que aconteceu.” Do total de agroquímicos vendidos no País,
US$ 4,5 bilhões foram apenas de genéricos, o que representa 50,7% do total comercializado.
Para ganhar mercado, a empresa fez investimentos agressivos no lançamento de produtos. De uma linha de apenas quatro itens em 2016, ela passou para um portfólio de 28 produtos, com destaque para fungicidas, herbicidas, inseticidas. “Com apenas quatro produtos, era muito difícil fazer com que o faturamento da empresa crescesse”, afirma o executivo. Uma das saídas foi a formulação de produtos utilizando cobre, um mineral nobre, que agrega valor e também é utilizado na linha de nutrientes especiais.
E a Albaugh quer mais. O objetivo é aumentar para 48 o número de produtos destinados aos agricultores. Não estão nessa conta 19 itens vendidos em operações diretamente realizadas com as empresas (B2B no jargão comercial), nos quais também há um planejamento de novos lançamentos. Nos dois segmentos, a meta é ter 90 ativos no mercado, até 2021. Os produtos que eram destinados a apenas quatro culturas ganharam força e relevância.
Antes, eram apenas para soja, milho, café e citrus. Hoje, eles cobrem 41 culturas, entre elas batata, arroz, banana, maçã, tomate, trigo, feijão, algodão e cana-de-açúcar. Para processar seus produtos, a Albaugh já definiu algumas estratégias para 2019. A principal é a expansão da capacidade da unidade industrial de Resende (RJ), que atualmente é de 8 mil toneladas por ano. O objetivo é chegar a 10 mil toneladas por ano, adicionando três novas moléculas de herbicidas ao seu portfólio. São elas: tebuthiuron, metribuzin e atrazina, todas usadas no cultivo de cana. “É mais um mercado que estamos explorando com total cuidado”, diz Seraphim. “Mas vamos apostar.” E também novas formulações para cultivos que já fazem parte do portfólio, como um fungicida à base de cobre destinado à soja, colocado no mercado no início do segundo semestre deste ano. Nesta tarefa, o executivo não está sozinho. Para reforçar a governança da Albaugh, três agrônomos especialistas em áreas distintas foram incorporados ao time de consultores técnicos. Paulo Padilha, que já passou pela Syngenta, e atua junto a produtores de frutas e cana-de-açúcar no Nordeste; Sílvio Gil Rodrigues, especialista na cultura de citrus, para a região de Catanduva (SP); e Amilton Fernandes, para a cultura de cana-de-açúcar, em Piracicaba (SP).
Entre 2016 e o final de 2021, a empresa espera investir R$ 500 milhões no desenvolvimento de novos produtos. Isso porque a difusão de tecnologias no campo deve crescer ainda mais num futuro breve. De acordo com Seraphim, o agronegócio está dividido entre quatro tipo de produtores: os que gostam de inovação e experimentam novas tecnologias no campo; aqueles que preferem conveniência na hora da aquisição de matéria-prima, com fornecedores fixos; os que prezam pelo relacionamento com distribuidores e, portanto, mantêm a fidelidade; e aqueles para os quais o negócio é puramente balizado pelos custos.
Seraphim destaca que há, ainda, outro movimento positivo em curso. “Estamos vendo o crescimento de uma geração de agricultores que pensam em inovação,” afirma o executivo. “É uma geração muito mais preparada do que a anterior“. Segundo ele, essa nova geração está atenta a assuntos como agricultura digital, inteligência artificial, mapeamento digital das terras e uso de novas máquinas.” Para Seraphim, por causa desse movimento, é muito mais fácil introduzir tecnologia na agricultura brasileira do que em outros países mundo afora.