O futuro para o etanol começa daqui a cinco anos, garante antonio de Pádua rodrigues, presidente interino da união da indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em são Paulo. a expectativa, também compartilhada por usineiros, consultores, instituições financeiras e produtores de cana-de-açúcar, se refere ao tempo necessário para que a produção de etanol se recupere da crise que se arrasta desde 2008, provocada por problemas climáticos, tributos elevados, baixos investimentos em novas unidades de produção e desunião entre as empre- sas do setor. as turbulências que se acumulam nos últimos quatro anos farão com que, na melhor das hipóteses, o Brasil produza na safra 2012/2013, no máximo, 505 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, volume seme- lhante ao obtido há cinco anos.

 

A evolução do etanol no Brasil

Se o ritmo de crescimento da produção de cana tivesse se mantido nos patamares vigen- tes até a metade da década passada, o País estaria levando à moagem 637 milhões de toneladas nesta safra, ou seja, 132 milhões de toneladas a mais do que o previsto. “Perdemos uma década”, diz rodrigues. “Paramos por cinco anos e vamos levar mais cinco para sair do buraco.” Com isso, foi por água abaixo o antigo plano traçado pela Unica de produzir 1,2 bilhão de toneladas de cana até 2020, para atender à demanda dos carros flex. rodrigues acredita que dentro de oito anos, o setor produtivo da cana-de-açúcar levará à moagem 800 milhões de toneladas, no máximo, atendendo a apenas 36% da demanda por combustíveis no País, a mesma faixa de hoje. “o plano para o etanol era de atender a 50% do mercado de combustíveis em 2020”, diz Rodrigues.

Cadeia desgovernada: perdas provocadas por baixa produtividade não foram repassadas aos postos

A crise no setor sucroalcooleiro já levou muitas usinas ao endividamento. segundo a unica, pelo menos um terço das 360 usinas instaladas na região Centro-Sul passa por algum tipo de dificuldade financeira. Entre elas, 60 convivem com dívidas superiores a R$ 100 por tonelada de cana processada. Paulo Roberto de Souza, presidente da Copersucar, com 48 unidades de moagem no País e dona de 18% do mercado interno de açúcar e etanol, diz que o endividamento atual é reflexo da crise financeira global de 2008. Nessa época, muitas usinas fizeram financiamento de curto prazo e se viram impossibilitadas de quitar a dívida. “Foi uma conjunção de fatores”, diz souza. “A crise pegou o setor de calça curta, o clima não ajudou e muitas usinas ficaram paradas, sem ter como pagar o que deviam.”

Em São Paulo, maior polo de produção canavieira do País, analistas do setor calculam que atualmente 20% das 180 usinas existentes estão em busca de compradores ou parceiros para se manter na ativa. em todo o País, segundo a consultoria KPMg, 15 usinas trocaram de mãos, no ano passado. souza, da Copersucar, diz que não tem sido fácil para ninguém. dia sim, dia não, a falta de cana para moer tem deixado paralisada a moagem em 20 usinas da empresa. “se nós, que não temos problema de caixa, sofre- mos com a baixa produção dos canaviais, imagine quem já está com a corda no pescoço.”

A crise da cana ainda não conse- guiu sensibilizar o governo federal, na visão dos produtores. “Não é de hoje que o setor tenta convencer o governo a subsidiar a produção de etanol”, diz Marcos Jank, ex-presidente da unica, que deixou o cargo em fevereiro e esteve à frente da entidade por cinco anos. enquanto o combustível estava no auge de sua produção, de 2005 a 2008, com consumo em alta e preços rentáveis, o setor já sinalizava ao governo a necessidade de medidaspara fomentar investimentos visando o longo prazo. Jank lembra que a unica procurou ajuda outras duas vezes, mas a resposta do governo foi negativa para as mudanças propostas.

Mas, com o aprofundamento da crise, medidas como a desoneração do pagamento do Pis/Cofins pelas usinas passaram a ser vistas com mais simpa- tia pelo governo. no entanto há quem veja nela um paliativo, uma decisão emergencial mais fácil de ser adotada e que não iria diretamente à raiz dos problemas. “o correto seria isentar o etanol de todos os tributos, já que ele é uma energia verde”, diz Marcos antonio Conejero, coordenador do Centro de inteligência do agronegócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), em Ribeirão Preto (SP).

Além da alta carga tributária de 23%, como mostra um estudo da escola superior de agricultura luis de Queiroz, da usP, os custos de pro- dução do etanol estão crescendo aceleradamente, comprometendo a rentabilidade do setor. de acordo com dados fornecidos pela unica, os custos subiram 49% desde 2005, de r$ 0,69 por litro do combustível para r$ 1,03 no ano passado. enquanto isso, segundo a agência nacional do Petróleo (anP), o preço médio do etanol ao consumidor, que era de R$ 1,40 o litro, subiu para r$ 1,79, em 2011, alta de 27,8%. Para não per- der competitividade nas bombas de combustível frente à gasolina, que teve seu preço praticamente congelado nos últimos quatro anos, as usinas não repassaram essa perda de rentabilidade. “não há como se capitalizar nesse cenário”, diz Jank. Para piorar ainda mais, os olhares do governo federal têm se voltado aos royalties da extração de petróleo na camada pré-sal, uma reserva estimada no litoral brasileiro entre 70 bilhões e 100 bilhões de barris entre óleo e gás natural. “O etanol tem ficado à deriva”, diz Jank.