SEM CRISE: segundo Júnior Ramires, a crise não afetou os negócios, pois os contratos foram fechados há mais de sete anos

O barulho das máquinas trabalhando em meio à mata fechada denuncia a derrubada de milhares de árvores diariamente. A movimentação dos caminhões, todos repletos de toras, serve apenas para comprovar a atividade. É assim há mais de 30 anos, quando Luiz Calvo Ramires plantou sua primeira muda de eucalipto na cidade de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, e fundou o que é hoje a maior empresa reflorestadora independente do Brasil, com uma área própria superior a 25 mil hectares e investimentos anuais próximos aos R$ 25 milhões.

A produção da empresa é menor do que a de gigantes do setor como a Votorantim, é verdade, mas é justamente aí que ela se diferencia. Ao contrário das concorrentes, sua produção não está ligada a nenhuma companhia consumidora de madeira. Ou seja, a Ramires produz pinus e eucalipto de acordo com a demanda e vende para quem bem entender. Seus principais clientes, como não poderia deixar de ser, ainda são as grandes companhias da região de Campo Grande, como ADM, Bunge, Cargill, JBS Friboi e MMX, mas os planos para o futuro são bem mais ambiciosos.

DE OLHO NO FUTURO: dos laboratórios da Ramires saem mais de 12 milhões de mudas de pinus e eucalipto todos os anos.O material é suficiente para cobrir sete mil hectares

“Temos um projeto grande no Maranhão para abastecer o mercado europeu. A ideia é plantar 40 mil hectares exclusivamente para exportação, uma vez que a localização favorece o escoamento da produção para a Europa”, revela Júnior Ramires, filho de Luiz Ramires, hoje à frente do negócio. O executivo afirma que as novas áreas já estão compradas, mas este ainda é um negócio de médio prazo, como tudo na silvicultura. Antes disso, o empresário pretende chegar aos 50 mil hectares de florestas e dominar o mercado interno.

Mas para chegar aos 90 mil hectares é necessário muito investimento e, principalmente, paciência. Por isso, o grupo possui uma central de reprodução de mudas melhoradas geneticamente, que são mais produtivas e geram toras mais homogêneas e valorizadas. “Temos capacidade para produzir até 12 milhões de mudas ao ano, suficientes para cobrir sete mil hectares”, diz Ramires. Este ano, o plantio será reduzido devido à crise, mas nada que afete a saúde financeira da empresa.

“Como investi menos agora, daqui a sete anos terei menos madeira, mas em compensação o valor será mais alto. Hoje os preços ultrapassam os US$ 15 o m3 estéril (somando-se os espaços entre as toras) e a tendência é que os preços se mantenham em alta”, continua o empresário. Ele lembra que a crise pouco afetou seu negócio, uma vez que seus contratos foram fechados há pelo menos sete anos. “A madeira sempre será necessária. Hoje, todo o papel produzido no mundo é proveniente de reflorestamento”, completa.

Assim como a Ramires, o setor madeireiro também vai muito bem. Mesmo diante da dificuldade em conseguir crédito junto aos bancos, as fazendas de reflorestamento não param de crescer no Brasil. Estima-se que hoje as áreas destinadas à atividade ultrapassem os 500 mil hectares, muito pequenas se comparadas à demanda. Por isso, o pinus e o eucalipto surgem como um excelente negócio para investidores de longo prazo.

SEM MOTOSERRA: toda a retirada das árvores é feita com a ajuda de máquinas adaptadas e tratores

“O investimento inicial, sem contar a terra, gira em torno de R$ 3 mil a R$ 5 mil por hectare, mas o retorno pode chegar aos R$ 12 mil por hectare em sete anos. É um negócio muito rentável e seguro”, afirma o consultor Manoel de Freitas, especialista em silvicultura.