01/08/2009 - 0:00
Marina Silva: “Acredito na harmonia entre o agronegócio e o meio ambiente”
O jogo sucessório de 2010, que antes parecia restrito a dois personagens, o governador paulista José Serra e a ministra Dilma Rousseff, ganhou um novo ingrediente no mês de agosto. Sabe-se agora que a senadora Marina Silva será candidata à Presidência da República pelo Partido Verde. Trata-se de uma candidatura que, no mínimo, obrigará todos os postulantes ao cargo a definir plataformas nítidas para o meio ambiente. Portanto, qualquer que seja o resultado em outubro de 2010, a ecologia estará no topo da agenda pública. E isso passará necessariamente pelo agronegócio. Enquanto foi ministra do Meio Ambiente, de 2003 a 2008, Marina Silva envolveuse em várias discussões ligadas ao campo. Combateu a aprovação de sementes geneticamente modificadas – e perdeu a batalha. Lutou contra o avanço de madeireiros ilegais no sul do Pará, sem ter conseguido os resultados esperados. Desgastada, saiu do governo após perder vários embates com a ministra Dilma. “De qualquer forma, conseguimos colocar a discussão ambiental no cerne de todos os projetos dos ministérios, algo que nunca tinha acontecido”, disse Marina Silva em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL.
Essa percepção de que o Brasil não pode mais adiar o debate ambiental, até por ser um dos países mais afetados pelo aquecimento global, já chegou ao agronegócio. A Petrobrás, maior empresa do Brasil, fará de seu braço agrícola, a Petrobrás Bioenergia, um exemplo verde no campo. Miguel Rossetto, presidente da estatal, tem dado declarações no sentido de que apenas fará negócio com produtores ou mesmo usinas que estejam em dia com suas obrigações ambientais.
Tido como o maior sojicultor do mundo e ex-vencedor do Troféu Motosserra do Greenpeace, até mesmo o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, se tornou um ativista de primeira linha. Ele defende a tese de que é preciso baixar o tom dos debates, procurando uma agenda em comum. “Se ninguém cede, não há evolução e, nesse sentido, é notório que o campo tem feito a sua parte”, avalia.
Outro empurrão significativo tem partido das redes de varejo, como Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart, influenciadas pela consciência ambiental dos consumidores. Nos últimos meses, todas essas redes assumiram compromissos públicos de não mais comprar carne proveniente de áreas desmatadas. O mesmo foi feito por grandes frigoríficos, como o Marfrig. “Isso estava em nossa pauta bem antes dos relatórios que colocaram a região da Amazônia como um problema ambiental”, explica Marcos Molina, dono do Marfrig, multinacional brasileira que fatura R$ 10 bilhões/ano.
Segundo o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, João de Almeida Sampaio Filho, ex-presidente da Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag), essa é uma discussão 100% salutar. “Quem não tem renda, não preserva”, afirma. Por isso, além de novos modelos de subvenção, será necessário rever políticas de formação de estoques. “É claro que todos querem um agronegócio ecologicamente correto e socialmente justo”, diz. “Mas para isso ele precisa ser economicamente viável.” Kátia Abreu, senadora do Democratas e presidente da CNA diz que a legislação ambiental tem de se adequar aos novos tempos: “Temos de ter uma lei que possa ser cumprida sem prejuízo a ninguém.” Cesário Ramalho da Sociedade Rural Brasileira comenta que o País não precisa derrubar nenhuma árvore para crescer. “Mas são necessárias linhas de crédito para recuperar áreas danificadas, o que colocaria milhões de hectares à disposição do País”, diz.
“Não sou inimiga do campo”
Em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, a senadora Marina Silva elogia iniciativas de sustentabilidade tomadas por várias empresas rurais.
A sra. é candidata à Presidência da República?
Ainda não. No momento estou fazendo a minha transição do Partido dos Trabalhadores para o Partido Verde. Depois analisarei esse convite que me foi feito.
Durante cinco anos a sra. enfrentou sérios embates com produtores rurais. Como enxerga esse setor?
Acredito que boa parte das discussões não seja bem encaminhada e muitos produtores tomam posições sem possuir as informações corretas, o que prejudica o julgamento. Acho que o poder público não tem colaborado nesse ponto.
O campo é inimigo do meio ambiente?
Com certeza, não. O agronegócio tem sido responsável por uma participação importante na economia brasileira, mas há, sim, alguns desvios que devem ser corrigidos. Por outro lado, tenho visto muitas empresas do setor mais profissional tomando uma postura absolutamente de vanguarda, o que é muito animador.
Então, qual a fórmula para se conseguir avanços?
Não podemos aceitar o argumento de que o mundo todo desmatou suas florestas então, por isso, fazemos o que bem entender com as nossas. Temos responsabilidade sobre o meio ambiente e sobre os efeitos que isso traz para o Brasil e para o mundo. Por isso, é preciso unir todos os atores envolvidos nessas discussões.
Mas isso não foi feito em sua gestão como ministra…
Pelo contrário. Envolvemos não só todos os ministérios como a sociedade civil, com audiências públicas, principalmente quando o assunto era licenciamento ambiental. Não sei se continua assim. Mas trouxemos, sim, a sociedade para mais perto das discussões.