Diariamente, cerca de 300 toneladas de resíduos de uma usina de açúcar e álcool, como torta de filtro e palha, são descarregadas na fábrica da Geo Energética, em Tamboara, no interior do Paraná. O biogás gerado na unidade, a primeira da empresa paranaense, em operação desde abril deste ano, é usado para gerar energia elétrica que é comercializada por meio de uma parceria com a Companhia Paranaense e Energia Elétrica (Copel). Com tecnologia inédita no Brasil para a geração de biogás a partir dos resíduos da cana, desenvolvida e patenteada após mais de dez anos de pesquisas, a Geo Energética prevê um crescimento acelerado. Nos próximos cinco anos, a Geo investirá R$ 1,5 bilhão para construir 15 fábricas no País, com capacidade total de geração de energia de 450 megawatts (MW). “O setor de biogás tem um grande potencial de expansão no Brasil e acreditamos no nosso negócio”, afirma o diretor e sócio Alessandro Gardemann, que divide o controle com o empresário Evaldo Fabian.

Para dar conta dessa empreitada, a Geo Energética está firmando parceria com quatro grupos sucroalcooleiros das regiões Sul e Sudeste cujos nomes ainda não são revelados. Essas parcerias são essenciais para a construção das fábricas. As usinas fornecem a matéria-prima, que são os resíduos do processo industrial, sem custo algum. Em contrapartida, a fábrica da Geo produz um adubo orgânico que retorna para a usina e pode ser usado nas plantações de cana. “Criamos um tratamento de resíduos economicamente viável, sustentável e sem custos para a usina”, diz Fabian.

A fábrica de Tamboara é a única no Brasil que produz biogás em escala comercial com resíduos da cana. Foi construída mediante um acordo com a Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana (Coopcana), de Paraíso do Norte (PR), que fornecerá os resíduos nos próximos 20 anos. “É um processo inovador e que traz muitos benefícios para nós, por isso temos interesse na ampliação do projeto”, diz Elias Fernando Vizzotto, presidente da Coopcana. Com 127 cooperados e 48 mil hectares cultivados com cana-de-açúcar, a cooperativa estima a produção de 3,5 milhões de toneladas de cana na safra de 2013, 140 mil toneladas de açúcar e mais de 180 milhões de litros de álcool. Como resultado, é possível obter mais de um milhão de toneladas de resíduos.

Até o início das operações da fábrica de biogás, a torta de filtro produzida na usina da cooperativa era transportada para áreas específicas, onde passava por um processo de compostagem que gerava adubo. Agora, a Coopcana não precisa se preocupar com parte desse resíduo. Com a colheita mecanizada, a palha da cana que permanecia na lavoura também terá destino certo. “Econo-mizamos com transporte, mão de obra, e ainda damos um fim nobre para esses resíduos”, afirma Vizzotto. Segundo o presidente, o adubo que volta para a cooperativa tem boa qualidade. “É um produto mais concentrado, que estamos usando para fazer uma cobertura do solo antes da adubação química”, diz.

Por enquanto, a fábrica da Geo, localizada a menos de um quilômetro da usina da Coopcana, tem capacidade instalada para produzir 4 MW. Mas, até 2016, essa planta será ampliada e deve absorver a totalidade dos resíduos produzidos pela cooperativa, atingindo potencial energético de 40 MW. Além disso, o plano de investimentos prevê o início da construção da próxima fábrica no segundo semestre de 2013, com capacidade de 24 MW. E, a partir do bio gás, a empresa também pretende fabricar biometano, combustível semelhante ao gás natural veicular, que pode ser usado no futuro para abastecer a frota de veículos e novas máquinas nas usinas, em substituição ao diesel. “O que propomos é a total independência energética dessas empresas”, afirma Fabian.

A tecnologia desenvolvida pela Geo Energética utiliza biodigestores, onde a matéria-prima é fermentada, num processo que se assemelha ao da produção de biogás a partir de resíduos da suinocultura, já conhecido no Brasil. Ao contrário da produção na suinocultura, a tecnologia da Geo otimiza o processo com um maior controle da temperatura, pressão e com aditivos, permitindo a produção de biogás em escala comercial. O que mais anima os diretores da Geo é a oferta de biomassa, já que o Brasil conta com mais de 400 usinas. “O setor canavieiro do Centro-Sul produz por ano 600 milhões de toneladas de cana”, diz Gardemann. “Se utilizarmos esse potencial, com a nossa tecnologia, poderemos gerar sete mil MW, mais que a energia da usina hidrelétrica de Belo Monte.”  Além da cana, a empresa prevê o uso de outros materiais, como os resíduos da mandioca. No Centro de Pesquisas Geo Energética (CPG), em Londrina, o biogás é estudado continuamente. “Temos um banco de dados com mais de 100 tipos de resíduos em pesquisa”, diz Fabian.

O apelo da energia limpa e sustentável, a partir de resíduos orgânicos, ganhou a atenção do governo. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) lançou, em julho, um projeto para novas tecnologias. Segundo o superintendente de pesquisa e desenvolvimento e eficiência energética da Aneel, Máximo Pompermayer, o setor de biogás ainda é inexplorado e precisa de investimentos. “Temos apenas 19 usinas e a maioria delas produz em pequena escala”, diz. “Precisamos de tecnologias viáveis economicamente para alavancar esse setor.”