01/04/2009 - 0:00
Ainda não são nem nove horas da manhã e milhares de executivos das mais diversas nacionalidades já estão espremidos na entrada do parque de exposições de Nuremberg, uma cidade histórica com cerca de 500 mil habitantes, na região da Bavária, na Alemanha. Um a um, eles vão deixando o frio de cinco graus negativos para fora e partindo rumo a um mundo dos sonhos, ao menos para os adeptos da alimentação saudável. Ou para os que lucram alto com ela. O evento em questão é a Biofach, maior feira de produtos orgânicos do mundo, que neste ano atraiu cerca de 2,8 mil expositores de 116 países e quase 50 mil visitantes ávidos por novidades.
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MUNDO NATURAL:
desde 1999, o mercado de produtosorgânicos
triplicou de tamanho, mas ainda há muito o que crescer nos próximos anos
Tanta euforia tem explicação. Todos querem entrar neste mercado que fatura mais de US$ 50 bilhões ao ano, mas ainda tem muito a crescer. Para se ter uma ideia deste potencial, o faturamento global de todo o setor ainda é menor que o faturamento da Cargill, por exemplo, estimado em US$ 80 bilhões. Outro ponto positivo é o fato de a agricultura orgânica – muito mais rentável que a tradicional – representar apenas 0,74% da produção mundial de alimentos, algo em torno de 32,2 milhões de hectares.
” A demanda mundial é muito grande e vai puxar o Brasil nesta onda “
MING LIU,
presidente da Organics Brasil
Em mercados mais desenvolvidos, como a Alemanha, os orgânicos são reconhecidos e muito aceitos entre a população. O Bionade é um bom exemplo. Feito a partir de ervas, o refrigerante colorido já ultrapassou concorrentes de peso como Sprite e Fanta e hoje é a segunda bebida não alcoólica mais vendida do País, atrás apenas da Coca-Cola. Em 2008, a empresa comercializou mais de 200 milhões de garrafinhas de 350 ml e acredita ter espaço para crescer ainda mais nos próximos anos.
TUDO NATURAL: obsessão por orgânicos na Europa chegou até aos famosos embutidos, livres de agroquímicos. Mas a grande vedete é o Bionade, chá com gás que se tornou um campeão de vendas
“Temos aumentado nossa capacidade produtiva ano a ano, e em 2009 não deve ser diferente. A crise não deve afetar em nada nossos negócios”, diz Eike Bushmann, diretor comercial da Bionade, que prevê um futuro promissor para as bebidas feitas com ingredientes livres dos agrotóxicos. “Os consumidores vêm aderindo cada vez mais aos produtos naturais, como o nosso, que é pioneiro no segmento. Este é o segredo do sucesso. Em breve, chegaremos aos quatro cantos do mundo”, afirma, otimista, o executivo alemão.
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E não são apenas os europeus que estão empolgados com este crescimento. A Austrália, notória por sua consciência ambiental, é disparada a maior produtora global de alimentos orgânicos, com uma área cultivável estimada em 11,8 milhões de hectares, quase o dobro de toda a produção da América Latina (veja quadro ao lado). Hoje, 2,59% de tudo o que é colhido na região é cultivado sem a adição de agrotóxicos, a maior média mundial. Na América Latina, tida como celeiro do mundo, este percentual não chega a 1%.
Diante de números tão empolgantes, os produtores brasileiros não poderiam ficar de fora. No total, 32 empresas estiveram representando o Brasil na Biofach e, mesmo em meio à crise, conseguiram fechar ótimos negócios. “A demanda internacional é muito grande, o que estimula a produção brasileira de orgânicos. O problema é que ainda focamos muito no fornecimento da matéria-prima e pouco em produtos acabados, com maior valor agregado”, afirma Ming Liu, coordenador executivo do Projeto Organics Brasil.
Mas, mesmo diante de lucros acima da média e dos poucos concorrentes, os produtores brasileiros parecem não ter percebido o verdadeiro potencial das lavouras orgânicas.
Prova disso é que o País ainda está atrás dos vizinhos Argentina, Uruguai e México em volume de produção. As exportações do Brasil também são tímidas. Maior fornecedor mundial de açúcar orgânico, o País exportou pouco mais de 40 mil toneladas em 2008. Já as exportações de soja não chegaram às 20 mil toneladas. De qualquer forma, com a tonelada valendo até US$ 800 no mercado externo, é, inegavelmente, um excelente negócio.
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Segundo Ming Liu, a principal dificuldade enfrentada pelo produtor brasileiro ainda é a falta de crédito e capacitação para industrializar seus produtos, uma vez que são, em sua grande maioria, pequenos e vivem em regiões mais afastadas, como a Amazônia. Mesmo assim, o mercado de orgânicos já movimenta mais de US$ 200 milhões ao ano no Brasil, US$ 58 milhões apenas em exportações. Mas o fato de exportarmos apenas matéria-prima não torna o negócio menos promissor.
Um bom exemplo é a Beraca, empresa brasileira que esteve presente da feira. Coincidentemente, a companhia foi alvo de reportagem na última edição de DINHEIRO RURAL e não deixou de dar sua opinião sobre esse promissor mercado. Há mais de 50 anos produzindo frutas típicas da Amazônia, a empresa decidiu, em 2003, apostar também na exportação de óleos orgânicos para a indústria de cosméticos, algo que não existia na época. A ideia deu tão certo que hoje a Beraca fatura R$ 100 milhões ao ano e fornece essências de açaí, cupuaçu, buriti, murumuru e andiroba para grandes grifes internacionais como L’Oréal e Avon. “Os clientes estrangeiros preferem matérias-primas naturais para agregar valor aos seus produtos. Os orgânicos são uma tendência em todo o mundo”, garante Filipe Sabará, diretor comercial da empresa.
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