E m meados do século passado, quando o herbicida 2,4-D começou a ser ofertado no mercado brasileiro com o nome comercial de “Mata Mato”, ele logo recebeu do produtor rural o adjetivo “mágico”. No imaginário do trabalhador das roças nacionais daquela época, um produto que ao ser jogado sobre a plantação eliminasse somente os vegetais indesejados, e não fizesse nenhum mal à cultura, só poderia ser construído à base de magia.  Desta forma, o 2,4-D representou uma verdadeira revolução nos métodos de controle de plantas daninhas na agricultura nacional. Ele foi o primeiro composto orgânico que, em doses baixas, passou a controlar as plantas daninhas da classe das eudicotiledôneas (conhecidas popularmente como folhas largas), e de forma seletiva a maioria das culturas da classe das monocotiledôneas (conhecidas como gramíneas), como trigo, milho, arroz e outros cereais.

Assim, o ‘Mata Mato Mágico’ substituiu a enxada e ajudou a agricultura tropical a se desenvolver, suprindo as necessidades de aumento da produção de alimentos. Ocorre que recentemente o herbicida passou a ser vítima de uma verdadeira guerra de guerrilhas travada no campo da informação, ou melhor, da desinformação. É creditada ao produto uma série de problemas sem nenhum tipo de comprovação científica. Os mais afoitos chegam a pedir a sua retirada do mercado, sem se preocuparem com o efeito que isto possa causar ao agricultor e, por consequência, à produção agrícola.

A substituição do 2,4-D por outros herbicidas nas áreas cultivadas provocaria um aumento médio anual no custo de controle das daninhas da ordem de R$ 1,1 bilhão ao produtor, o que representaria um acréscimo de 506% nos gastos com o controle das infestantes, na comparação com o controle realizado pelo 2,4-D. A conta leva em consideração apenas o papel atual do herbicida para o controle de plantas daninhas nas lavouras para as quais ele é registrado. Mas, o prejuízo certamente não se limitaria ao campo. A população urbana não deixaria de sentir o inevitável aumento dos preços dos alimentos que se seguiria à interrupção do uso do herbicida.

Outra função do 2,4-D se refere ao manejo das plantas voluntárias tolerantes ao herbicida glifosato, utilizado em lavouras transgênicas, como as de soja e de algodão. Apesar do produto não ser registrado para tal fim, em trabalhos de pesquisa o 2,4-D tem se demonstrado como uma das melhores soluções para o controle dessas plantas indesejadas. Atualmente, uma das preocupações do setor tem sido o aumento de áreas com cultivares resistentes ao glifosato no País.

Entre as culturas que utilizam o 2,4-D, a soja está em primeiro lugar. São 19,6 milhões de hectares, o que representa 65% da área cultivada com a leguminosa. A segunda cultura em abrangência de área é o milho, com aproximadamente 3,6 milhões de hectares.  O trigo também se iguala em área tratada com o milho, o que representa cerca de 42% do total de lavouras do cereal cultivado no Brasil.  Na cana-de-açúcar são estimados 1,7 milhão de hectares  para o uso do 2,4-D, área equivalente a 19% do total. E nas lavouras de arroz são 364 mil hectares com o herbicida, totalizando cerca de 15% da área cultivada com o cereal.

As críticas mais relevantes em relação ao uso do 2,4-D se referem às aplicações realizadas em condições climáticas desfavoráveis, ou ao mal uso de equipamentos de segurança, os EPIs. Por isso, há um grande esforço da iniciativa pública – através das universidades, instituições de pesquisa e de empresas de assistência técnica – e da iniciativa privada – através das empresas químicas, cooperativas, revendas e consultorias – para treinar e educar o produtor sobre a importância da utilização correta de tecnologias. São elas que garantem a qualidade da aplicação dos agrotóxicos. Este é o caminho para que a mágica de produzir cada vez mais, com cada vez menos custos, continue acontecendo na agricultura brasileira.


Na planta: o 2,4-D foi o primeiro composto orgânico que, em doses baixas, passou a controlar pragas