O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a criticar o Banco Central pela política de juros e inflação. Ao reprovar novamente o fato de a autoridade monetária ser independente, Lula apontou um descompasso entre a Selic e o IPCA, que mede o aumento dos preços, e disse que “a gente poderia nem ter juros”. Na quarta-feira, 18, em entrevista à Globo News, o chefe do Executivo criticou a meta de inflação estabelecida pelo Comitê Monetário Nacional (CMN) e disse que ela obriga um “arrocho” na economia.

“Qual é a explicação de a gente ter um juros (Selic) de 13,5% hoje? O Banco Central é independente, a gente poderia nem ter juros”, disse Lula em encontro com reitores de universidades e institutos federais na manhã desta quinta-feira, 19, no Palácio do Planalto. “A inflação está em 6,5%, 7,5%, por que os juros (Selic) estão a 13,5%?”, questionou, em discurso para reitores de universidades federais, na manhã desta quinta-feira, 19.

A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro do ano passado, fixou a Selic – taxa básica de juros – em 13,75%, e não 13,5%, como disse Lula. A inflação acumulada em 2022 foi de 5,79%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O presidente do BC, Roberto Campos Neto, justificou o estouro da meta à elevação do preço do barril de petróleo e à retomada da economia, entre outros fatores.

Lula disse na quarta-feira ver exagero na meta de inflação fixada pelo CMN para este ano, de 3,25%, com intervalo de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer”, afirmou o presidente.

Aprovada pelo Congresso em 2021, a aprovação da autonomia formal do BC estabelece, entre outros pontos, mandatos fixos para a diretoria. Essas mudanças, segundo o BC, reduzem a influência política sobre seus dirigentes, que determinam o patamar da Selic (a taxa básica de juros da economia), atualmente em 13,75% ao ano. Com esse instrumento, o BC controla a quantidade de dinheiro na economia e o impacto que isso tem sobre os preços.

Além disso, a autonomia é vista como um sinal positivo para o mercado financeiro – em especial, investidores internacionais. Em tese, com mandatos fixos os diretores do BC teriam mais condições de manter a continuidade da política monetária, independentemente do presidente da República eleito. Ela blinda, por exemplo, pressão contra subir a taxa básica de juros (o que encarece os empréstimos) em momentos que a inflação estiver alta, mas a economia cambaleante.

Em mais uma crítica ao mercado financeiro, Lula disse que “a única coisa que não é tida como gasto pelo mercado é o pagamento de juros da dívida” que, segundo ele, é visto como investimento. De acordo com o presidente, há uma desconfiança do mercado “em tudo o que a gente fala de investimento”. “Eu não vejo essa gente falar uma vez em dívida social.”

Na avaliação de Lula, não se pode aceitar a negação do Estado. “O Estado é importante, porque o Estado pode ser regulador da justiça social neste País”, comentou, destacando a importância de se fazer uma reforma tributária.

O presidente ainda citou a dívida de estudantes no Fundo de Financiamento Estudantil do Ensino Superior (Fies). “O País tem tolerância com ricos que devem, por que não com jovem que se formou e pode pagar?”, disse, e emendou: “Uns conseguem juntar bilhões, outros não conseguem juntar tostões.”