11/07/2018 - 18:51
Na praia, uma companheira inseparável de Ribeiro Junior tem sido uma boa água de coco. Mas se engana quem pensa encontrá-lo de bermuda e chinelo, empunhando um canudinho. Cenas assim estão reservadas aos dias de lazer. Ribeiro Junior é hoje o CEO da Aurantiaca, dona da marca de água de coco Obrigado. No ano passado, a receita foi de R$ 70 milhões com a venda de 32 milhões de litros de bebidas embaladas em caixas cartonadas do tipo longa vida, como a Tetra Pak. “Queremos mais para 2018”, diz ele. “Neste ano, a meta é vender 41 milhões de litros, 30% a mais, mas dobrando a receita.” O plano é aumentar a venda de água de coco pura, mas a aposta maior são as saborizadas com frutas e ervas. A Aurantiaca, no Brasil desde 2006, pertece ao grupo americano Cilento, que tem como sócios o holandês radicado no Brasil, Piet Henk Dorr, e o investidor americano Willem Kooyker, 74 anos. Kooyker comanda o Blenheim Capital Management, de Berkeley, fundo que gerencia US$ 5 bilhões. “Quando iniciamos o projeto não havia no norte da Bahia uma indústria importante do setor”, diz Ribeiro Junior.
A estratégia de expansão da Aurantiaca começou a ser implantada em 2014, ano em que vendeu três milhões de litros de água de coco. Em 2017, a empresa processou 13 milhões de litros. Desse total, 12 milhões de litros foram de água pura da fruta, e um milhão de litros foram temperados com polpa de frutas e ervas de sabores exóticos, como jabuticaba, capim santo, gengibre e chá verde. “As saborizadas, no portfólio desde 2016, somaram 19 milhões de litros e atraem cada vez mais consumidores” afirma Ribeiro Junior. No ano passado, a empresa criou uma linha à base de leite de coco para beber, misturado com maracujá, manga ou cacau, diferente do produto culinário.
Para dar conta da expansão, até o fim do ano estão sendo plantados mais 524 hectares de coqueirais, que serão incorporados à atual lavoura de 2,1 mil hectares. A empresa possui 7,2 mil hectares no litoral baiano, dos quais 70% são áreas de vegetação nativa. O Brasil é o maior produtor de água de coco do mundo. No ano passado, o País consumiu 157,4 milhões de litros da bebida pura, envasados em caixinhas. Essa cadeia movimentou R$ 2,2 bilhões, segundo a Euromonitor Internacional, empresa global de consultoria e estratégia de mercado. O crescimento foi de 6% em volume e de 13,5% em receita. Nessa conta não está o consumo de água da fruta in natura. “Quando se trata de apelo saudável, o coco é um destaque nas mentes dos consumidores”, diz Angélica Salado, analista de pesquisa da Euromonitor. “A categoria embalada é uma bebida de estilo de vida e está emergindo como um produto de ingredientes naturais, facilmente identificáveis”, afirma Howard Telford, também analista da consultoria. Segundo o engenheiro agrônomo e consultor Luiz Angelo Mirizola Filho, o País está à frente no processamento da bebida, por apostar em variedades da fruta para a indústria. “O Brasil é imbatível na produção de coco anão, que é exclusivo para água de coco”, diz ele.
O Brasil é o quarto maior produtor global da fruta. São 284 mil hectares, com colheita de dois milhões de toneladas de coco. A produção mundial da fruta é de 60,7 milhões de toneladas, em 11,2 milhões de hectares, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Na Ásia estão 71% da área cultivada, com as Filipinas e a Indonésia no topo da lista, mas a produção é para óleo e fruta seca.
No mercado interno, de acordo com a Euromonitor, a marca Obrigado ocupa a quinta posição entre as processadoras de água de coco. Ela está atrás da Kero Coco, que pertence à americana PepsiCo, e das brasileiras Ducoco, Sococo e Coco do Vale, todas com sede no Nordeste. Essas empresas também estão na briga por uma fatia do mercado global de bebidas à base de água da fruta. Não por acaso, no ano passado, os Estados Unidos ultrapassaram o Brasil no consumo da bebida. Foram 217 milhões de litros. A Europa vem em terceiro lugar, com 76 milhões de litros.
De olho nesse potencial, em 2016 a Aurantiaca abriu escritórios nos Estados Unidos e na Holanda. Em 2017 foram exportados 2,5 milhões de litros de água pura da fruta, ante 300 mil litros no ano anterior. “Nossa meta é exportar 75% da produção”, diz Ribeiro Junior. “Queremos essa marca em cinco anos.” A Aurantiaca, que já investiu R$ 570 milhões, desde que se instalou no País, vai aplicar mais R$ 400 milhões nas próximas cinco safras. Ela quer aumentar os coqueirais e desenvolver outras bebidas. A meta é levar a receita a R$ 1 bilhão por ano. No mercado interno, a tática tem sido as parcerias. Desde janeiro, a rede americana de cafeterias Starbucks tem a Obrigado como marca exclusiva. O mesmo vale para a água Bonafont, da Danone, que passou a distribuir a bebida à sua rede de clientes.