17/11/2021 - 20:44
Os mais maduros as reconhecem sempre com um sorriso no rosto. Os mais jovens ficam curiosos. Ninguém passa incólume na frente de uma Rural, espécie de avô do SUV brasileiro, ou de sua versão Picape, a F75.
Esses são os nomes mais conhecidos de dois dos modelos 4×4 mais lembrados da indústria brasileira. Mas a história é longa.
A saga da picape brasileira começa em 1952. Nesse ano, a americana Willys abre a Willys-Overland do Brasil, para montar o Jeep no País. O Jeep já era nessa época um veículo icônico, feito com objetivos militares para abastecer as tropas na Segunda Guerra (1939-1945).
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Com o tempo, se tornou um símbolo de resistência no campos, nos desertos e nas selvas do mundo todo.
Nos anos seguintes, a medida que vai nacionalizando componentes, a Willys começou a lançar novos modelos. A Rural vem nessa leva, com o nome tropicalizado de sua versão americana chamada Jeep Station Wagon.
A nacionalização pediu também modificações locais. Em 1960, a filial brasileira da Willys lançou uma reestilização da Rural, desenhada pelo americano Brooks Stevens. Aproveitando o mesmo desenho básico, lançou a Pick-Up Jeep, que combinava o chassi do Jeep Pickup americano com uma carroceria exclusiva para o Brasil. O motor era um 2.6 de seis cilindros e 90 cv. Como opção, a tração traseira ou 4×4, a primeira disponível em uma picape brasileira.
A picape seguiu as atualizações do utilitário Rural e, nos anos seguintes, ganhou itens como o sistema elétrico de 12V, suspensão dianteira independente na versão 4×2 e um câmbio manual de quatro marchas.
A primeira mudança na motorização veio em 1968, com a opção do motor 3.0 de seis cilindros e 132 cv empregado no luxuoso sedã Itamaraty. Aí começa sua transição para o coração das cidades. E para as atividades de aventura — essas, sim, definidoras do conceito dos SUVs. Com poucas opções no portfólio da indústria brasileira da época para encaixar família, barraca, traquitanas de praia ou acampamento, a Rural começou a ser cada vez mais vista nas garagens das famílias urbanas, a despeito de seu interior espartano.
Em 1970, a picape ganhou o nome pelo qual é mais lembrada hoje: Ford F-75. Claro, reflexo da aquisição pela Ford, três anos antes, da Willys-Overland do Brasil. Sem mudanças na carroceria (que permaneceu inalterada até o fim da produção), a picape passou a trazer apenas o nome “Ford” no lugar de “Jeep” estampado na tampa da caçamba.
Junto do Jeep CJ-5 e da Rural, a picape passou a sair de fábrica em 1975 com um novo motor 2.3 de quatro cilindros, que desenvolvia 91 cv e era empregado também no Ford Maverick.
Esta foi a última grande novidade do modelo, que deixou de ser produzido em 1982 e foi um dos últimos veículos de origem Jeep fabricados no Brasil até o lançamento do Renegade, em 2015.
Versões militares
O lançamento da Pick-Up Jeep despertou o interesse dos militares brasileiros, interessados em substituir os Dodge WC usados desde a Segunda Guerra.
Com chassi reforçado e modificações mecânicas e na carroceria, a picape ganhou o nome oficial de Camioneta Militar Jeep Willys 3/4 ton (que posteriormente passaria a ser Camioneta Militar 3/4 ton 4×4 Ford F-85) e foi usado como veículo de carga e ambulância, além de algumas unidades terem sido adaptadas para levar metralhadoras ou até lança-foguetes.
Curiosidade: a picape foi o primeiro veículo militar exportado pelo Brasil.
Nada menos que 150 unidades do modelo foram entregues ao exército português para uso nas colônias.