Por todo o País, os motores das colheitadeiras começam a ser desligados. Com boa parte da safra colhida e da produção comercializada, é hora de contabilizar os ganhos obtidos com os produtos da terra e pensar na melhor estratégia para fazer render o suado dinheiro que entra no caixa da fazenda. Entre investimentos, aplicações, pagamentos de dívidas, compra de insumos e um universo de possibilidades, o grande desafio é saber qual a melhor forma de gerenciar esses recursos. Uma necessidade que ganha ainda mais importância diante de uma safra de lucros ainda incertos.

“Devido às circunstâncias do mercado, os produtores terão um ano de pouco dinheiro em caixa. Quem vendeu antecipadamente deve ganhar um pouco”, analisa o consultor da Agência Rural, Eduardo Godoi. Para alguns especialistas do setor, a melhor estratégia é simplesmente não gastar o dinheiro, e sim aplicálo de olho na formação de uma reserva financeira.

“Um dos grandes problemas causadores de perdas é não ter uma sobra de caixa na fazenda”, afirma o diretor técnico da consultoria AgraFNP, José Vicente Ferraz. “Normalmente, sempre que sobra algum dinheiro, o produtor compra terra e imobiliza seu capital. Logo depois precisa financiar a abertura da área e o novo plantio e acaba pendurado em financiamentos. Isso tira o seu poder de comercialização”, pondera.

Segundo Ferraz, se o produtor não está capitalizado, precisa comprometer boa parte de sua produção, trocandoa por insumos, normalmente recebendo preços de “boca de safra”, que historicamente são mais baixos do que em outros períodos. “Ao estabelecer esse fundo de caixa, ele não fica refém de crédito nem precisa comercializar sua safra em um momento desfavorável.”

Para o pesquisador do Centro de Pesquisas Econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/USP), Mauro Osaki, para se chegar a um caixa forte, com sobra de recursos, a palavrachave é planejamento. “Todas as decisões, principalmente relativas a investimentos, devem ser muito bem estudadas e calculadas. Nada pode ser por impulso”, diz. De acordo com o pesquisador, o ideal é ter um plano de longo prazo, calculando quanto do dinheiro que entra na fazenda pode ser aprisionado a cada safra. “É algo que deve ser feito ano a ano”, revela Osaki. Ele afirma que para isso é preciso levar em conta os custos fixos e variáveis da propriedade.

Outro aspecto importante está na questão das dívidas agrícolas. De acordo com o pesquisador, em alguns casos pode valer mais a pena buscar uma renegociação do débito e investir o dinheiro na compra dos insumos. “É preciso estudar os termos dos contratos. Havendo a possibilidade de rolar a dívida, é preciso comparar as taxas de juros embutidas nessa operação com os juros pagos em um financiamento, para escolher a opção que possibilita a maior sobra de recursos”, conta.