G etúlio Vargas (1882-1954) foi o primeiro presidente da república a abrir a Expozebu, a maior exposição agropecuária do Brasil, coordenada pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Desde então, mais precisamente em 1941, foram raras as vezes que um mandatário do País ficou de fora do evento que reúne os maiores e mais influentes pecuaristas nacionais. No ano passado, por exemplo, mesmo sabendo que poderia ser hostilizada, a presidente Dilma Rousseff compareceu ao parque de exposições em Uberaba (MG). Ali, discursou e apertou as mãos dos produtores que representam boa parte do PIB da pecuária brasileira. Não é à toa, portanto, que uma batalha pelo comando da ABCZ, entre os anos de 2017 a 2019, tem sido travada nos bastidores. A eleição da associação com 23 mil associados, marcada para o dia 1 de agosto, põe dois figurões do setor em campos opostos. De um lado, com o apoio do atual presidente Luiz Cláudio Paranhos, está Frederico Cunha Mendes, que hoje é o diretor de informática da entidade. Do outro, está Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, um dos três vice-presidentes em exercício. “Vamos fazer uma ABCZ muito mais participativa”, diz Machado Borges. Cunha Mendes, por sua vez, contra-ataca. “Vamos continuar um projeto que vem dando certo.”


“Vamos fazer uma ABCZ muito mais participativa”  Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, um dos candidatos à presidência da entidade

Além de uma entidade com muita influência, o que está em jogo é uma potência que apresenta números comparáveis aos de uma grande empresa. Seu orçamento anual, por exemplo, chega a R$ 54 milhões. Entre funcionários administrativos e técnicos, a ABCZ emprega 500 pessoas. Criada nos anos 1930, a entidade gerencia ativos extraordinários. Apenas o parque de exposições Fernando Costa, em Uberaba, onde ocorrem os dois maiores eventos das raças zebuínas, a Expozebu e a ExpoGenética, é avaliado pelo mercado imobiliário local em R$ 150 milhões. Além disso, a ABCZ possui uma fazenda experimental de 70 hectares e mantém as Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), fundada em 1975, que conta uma fazenda de 200 hectares e 900 alunos em seis cursos superiores e MBAs na área do agronegócio.

O curioso na disputa envolvendo os dois candidatos é que ambos apresentam propostas quase idênticas. Mas a possibilidade da união entre eles, recompondo uma chapa única, formada por três vice-presidentes e 13 diretores, é remota. Para o pecuarista Carlos Viacava, que já foi presidente da Associação de Criadores de Nelore (ACNB) por dois mandatos e faz parte do grupo de Arnaldo Machado Borges, a ABCZ estará em boas mãos. “Ele é um grande conhecedor das raças zebuínas, da entidade e não vai abrir mão de ocupar esse espaço”, diz Viacava. “Arnaldo conhece os criadores de zebu como ninguém, por causa de seu passado como juiz em exposições agropecuárias.” Para o atual presidente da ACNB, Pedro Novis, que apoia Cunha Mendes, e que também é candidato a vice-presidente, os dois grupos que disputam a eleição são diferentes no tipo de gestão que podem adotar. “Não é possível pensar em uma união, porque são dois modos diferentes de pensar a entidade”, afirma Novis. “Mendes é um empresário e vai impor um ritmo com esse viés ao trabalho a ser feito, muito mais dinâmico.”


Continuidade: Frederico Cunha Mendes (à esq.) quer levar a diante o trabalho realizado por Luiz Cláudio Paranhos na entidade

Mas, afinal, o que os candidatos propõem? As intenções das chapas que concorrem ao cargo são claras: é preciso trazer os associados para dentro da entidade, melhorarando e desburocratizando os serviços prestados, principalmente os registros genealógicos;  fortalecer o corpo técnico e a área de pesquisa; ampliar e dar musculatura para o Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ). O plano de ação prevê aumentar a abrangência territorial do Programa de Qualidade Genética do Rebanho Bovino Brasileiro (Pró-Genética); ampliar a representatividade da entidade e a quantidade de escritórios regionais; e criar parcerias com os governos estaduais e federal. O próximo presidente quer também discutir grandes temas com a sociedade, como logística e infraestrutura, mão-de-obra, segurança jurídica e incentivo aos projetos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta; e apoiar as provas zootécnicas e os eventos realizados através das associações das raças coligadas à ABCZ, entre elas a nelore, brahman, guzerá, tabapuã, gir, indubrasil e sindi. A rigor, as propostas são as mesmas, mas os planos de poder são distintos. Quem vencerá?