15/04/2013 - 14:50
A SAP, gigante alemã da Tecnologia da Informação (TI), desenvolvedora de software para gestão de empresas, está voltando os olhos para o agronegócio. A semente que fez crescer esse interesse germinou aqui no Brasil, no SAP Labs Latin America, um dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento da SAP, sediado em São Leopoldo (RS). Durante um ano, cerca de 40 programadores brasileiros, americanos e indianos dedicaram-se à tarefa de criar o SAP Agricultural Contract Management (ACM), a primeira solução da empresa voltada exclusivamente para o campo. De acordo com Stefan Wagner, o presidente do SAP Labs Latin America, o Brasil é o quarto maior mercado da SAP no mundo e se destaca no agronegócio, o que explica o investimento. “Os brasileiros são inovadores e acreditamos que há muitas oportunidades no País”, diz Wagner. “Por isso, decidimos desenvolver essa solução de acordo com as necessidades do mercado brasileiro e depois exportá-la para o mundo.”
Quem pensa que o ACM é apenas mais um software no mercado está enganado. Segundo Cláudio Lot, gerente de agronegócios da SAP Brasil, em São Paulo, existem muitas soluções disponíveis atualmente. Acontece que há sistemas ideais para empresas de outros setores, como os de energia, financeiro, óleo e gás. As tradings se viram como podem, compram soluções mais amplas e depois precisam investir numa customização do produto. “Para originar grãos, é preciso uma relação contratual rigorosa”, diz Lot. “Mas havia uma lacuna nesse mercado.” Para mudar essa realidade, nasceu o ACM, com um destino certeiro: gerenciar contratos agrícolas de cargas secas, como soja, milho e café. Com ele, é possível identificar fornecedores de grãos, gerenciar o volume movimentado e os prazos de entrega do produto, acompanhar a flutuação de preços nas bolsas de valores, controlando todas as etapas da cadeia até a liquidação efetiva de um contrato, por uma ou mais safras.
O projeto refletiu até mesmo numa mudança cultural dentro da empresa. Segundo o arquiteto de soluções SAP Labs, Marcos Rahmeier, foi preciso realizar cinco encontros com empresas parceiras para que os programadores se familiarizassem com a linguagem do agronegócio, e para entender de fato as necessidades da área. “É um setor completamente novo para nós”, afirma.“Tivemos muitos desafios.” Mas, além de inovar, a SAP, líder mundial no mercado de software empresarial – presente em mais de 75 países e com faturamento de € 16,3 bilhões em 2012 –, está mesmo é prevendo lucros. “O agronegócio representa muito pouco para o mercado de TI, acredito que não passe de 2,5% do faturamento, mas está crescendo”, diz Lot. A realidade vem mudando gradativamente. Se hoje a SAP Brasil atende cerca de 40 empresas de grande porte do setor agropecuário, em 2007, esse grupo era restrito a apenas quatro clientes.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, o setor brasileiro de TI movimentou US$ 123 bilhões em 2012. Embora ainda não se saiba qual a participação dos contratos do agronegócio nesse bolo, a SAP acredita que esse nicho de mercado tem potencial. Há boas razões para isso. Até o fechamento desta edição, a SAP já havia vendido o ACM para três clientes no Brasil, entre eles a Ceagro, a trading do Grupo Los Grobo, de Goiânia (GO). Dois clientes internacionais, um da Argentina e outro de Cingapura, também já compraram o programa.
A empresa, que não divulga o valor da solução, pretende conquistar ao menos cinco novos clientes brasileiros neste ano. “Na corrida para ganhar competitividade, a informática será a melhor amiga do produtor”, diz Roberto Kuplich, gerente de desenvolvimento do SAP Labs Latin America. Para ele, num ambiente de trabalho no qual o volume de dados só aumenta, para acelerar os processos, fazer melhor e ultrapassar a concorrência, os programas de gestão são infalíveis. “O uso do computador no campo ainda é limitado”, diz. “Mas a informática está aí, para trazer visibilidade e transparência para os processos.”