01/03/2012 - 0:00
Nas lanchonetes McDonald’s da Europa, do Japão e da Austrália, quem pede um cafezinho pode ler nos copos recicláveis que os grãos que deram origem àquela bebida são 100% certificados pela Rede de Agricultura Sustentável (RAS), uma entidade latino-americana formada por organizações conservacionistas. Agora, além do café, a maior rede de fast food do mundo quer vender suco de laranja certificado para agradar aos clientes cada vez mais interessados em saber de onde vem aquilo que consomem. E não é somente o McDonald’s que está em busca de laranjas certificadas. A Coca-Cola e a PepsiCo também já anunciaram que vão exigir de seus fornecedores de suco um selo de origem da matéria-prima. “O comportamento do consumidor está ditando as regras socioambientais das empresas e todos terão que se adequar”, diz Valdir Guessi, diretor agrícola da Cutrale, a segunda maior fabricante do setor, com 35% do mercado nacional, com sede em Matão, no interior paulista.
O Brasil, maior exportador de suco de laranja do mundo, obteve US$ 2 bilhões, no ano passado, com a venda de 1,3 milhão de toneladas da bebida para os Estados Unidos e Europa. O cumprimento das metas de comercialização de suco certificado provocou uma corrida entre as empresas exportadoras dispostas a se adequar às exigências de seus clientes internacionais. O resultado desse esforço foi apresentado no início deste ano. As três maiores processadoras de suco do País multiplicaram por 12 a quantidade de fruta colhida certificada, contabilizando quase seis milhões de caixas de laranja (cada caixa tem 40,8 quilos). Até então, a Cutrale e a Citrovita- Citrosuco, joint venture dos grupos Votorantim e Fisher, criada em dezembro de 2011, colhiam anualmente apenas 500 mil caixas certificadas pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com sede em Piracicaba (SP).
A Cutrale, além de certificar o pomar da fazenda Graziela, que ocupa uma área de 1,6 mil hectares, no município de Ibaté, no interior de São Paulo, avançou algumas etapas no processo de rastreamento da cadeia produtiva da laranja. A empresa certificou também sua fábrica de suco em Araraquara, e o seu terminal portuário em Santos, no litoral paulista. De acordo com Guessi, toda a produção da fazenda, de 900 mil caixas por safra, está indo para a Coca-Cola, a PepsiCo e o McDonald’s.
A certificação, além de conquistar o cliente, agrega valor ao produto. Eduardo Trevisan Gonçalves, gerente de mercado de Produtos Certificados da Imaflora, afirma que a bebida produzida com laranja certificada pode valer entre 10% e 15% mais no mercado externo. Em dezembro, o preço médio de uma tonelada de suco convencional no mercado internacional era de US$ 1.312, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Guessi diz que, até 2013, a meta da Cutrale é certificar mais cinco fazendas na região de Araraquara e Botucatu.
A Citrovita, a outra gigante da citricultura, com sede em Matão, cidade vizinha a Araraquara, começou seu processo de certificação no final ano passado. A empresa colocou em conformidade com as regras do Imaflora oito mil hectares de cultivo da fruta na fazenda Cambuhy, de 14 mil hectares, propriedade que pertence aos herdeiros do banqueiro Walter Moreira Sales, fundador do Unibanco. A fazenda, reconhecida como modelo pelo Imaflora, produz cinco milhões de caixas de laranja por ano e vai seguir o modelo da Cutrale, de certificar unidades industriais e portuárias. Até 2014, de acordo com Gonçalves, com a certificação de outras unidades produtoras da Cutrale e Citrovita, o País deverá dobrar a quantidade de laranja com selo de origem, para 12 milhões de caixas. Mesmo assim, o volume de fruta com selo ainda representa uma parcela pouco expressiva da produção nacional, atualmente de 390,4 milhões de caixas.
O processo certificador da Imaflora pode levar de seis meses a dois anos para ser concluído. Para ter acesso ao selo, agricultores e indústria devem atender a mais de 100 quesitos, entre eles, preservação de recursos hídricos, tratamento de resíduos e treinamento de funcionários. “O monitoramento da produção mostra aos nossos clientes que o País produz com sustentabilidade”, diz Gonçalves. “Para nós é uma proteção contra as críticas que o País recebe lá fora em relação aos seus processos produtivos.” O programa do Imaflora também é credenciado pela RAS.