As Olimpíadas começam em agosto, mas já tem quem mereça medalha de ouro na modalidade “Preservação”. Os produtores da região serrana do Rio de Janeiro estão se movendo em uma direção importante para a sobrevivência do agronegócio no Estado, setor que, no ano passado, movimentou R$ 2,8 bilhões em Valor Bruto da Produção (VBP), de acordo com o IBGE. Eles começaram a implantar tecnologias agrícolas em 2010, visando a recuperação e a conservação de 2.016 nascentes de rios, até o início dos Jogos Olímpicos. Chamada de “Água Limpa para o Rio Olímpico”, a campanha foi além: no último levantamento havia 3.120 nascentes protegidas, por três mil produtores. “Eles se saíram muito bem”, diz Helga Hissa, coordenadora técnica do projeto Rio Rural, um programa de assistência da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Estado, onde a campanha está inserida. “O Rio de Janeiro possui 366 microbacias hidrográficas. Somente na região serrana há 14 mil nascentes e preservamos 21% delas. Ainda há muito por fazer.”

Para colocar em prática a recuperação das nascentes, foram aproveitados os trabalhos já realizados pelos 300 técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Rio). Junto com a transferência de tecnologias e cursos de capacitação sobre curvas de nível, plantio direto, integração lavoura-pecuária, ou pastejo rotacionado dos bovinos, os profissionais passaram as técnicas de preservação do ambiente, entre elas o cerco das nascentes e o plantio de árvores nativas. O financiamento do Rio Rural, de US$ 233 milhões, é do Banco Mundial, com o apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Um dos produtores que aderiram à campanha foi Giovani Faria Buzzi, do sítio Minas Gerais, em Santa Maria Madalena, município no qual já foram recuperadas 87 nascentes. Buzzi é dono de uma micro cervejaria artesanal, que leva seu sobrenome, negócio em que a qualidade da água é fundamental. No sítio de 44 hectares existem quatro nascentes e de duas ele retira água também para o cultivo de eucalipto, flores e caqui. Buzzi cercou e recuperou as duas nascentes não utilizadas, com o plantio de quase de 200 árvores nativas. “Em 2015 tivemos uma seca forte na região e, para quem já fazia a conservação, foi mais tranquilo”, diz o produtor. O trabalho foi fundamental para impulsionar seus negócios. “Passei a contar com reserva de água pura, mantendo a qualidade das cervejas que produzimos”, afirma. A fábrica processa oito mil litros da bebida por mês, vendidos nas regiões serrana e dos lagos, no litoral. O sucesso do projeto o levou a investir no plantio de cana-de-açúcar para a fabricação da cerveja Rumbier, que leva melado na composição. Agora, com a lavoura produzindo, ele também quer fabricar cachaça.


Casa arrumada: Buzzi, que produz cerveja, agora quer investir em cachaça

De acordo com Helga, o programa de recuperação de nascentes tem trazido benefícios às comunidades rurais. O ganho social é o destaque, pois o produtor passa a ter uma compreensão diferente do negócio. “Isso gera maior poder aquisitivo à comunidade na qual ele vive”, diz Helga. “Além disso, o valor agregado na produção faz a economia girar, levando melhor qualidade de vida a esses locais.” Em 2018, porém, a fonte de recursos vai secar, de acordo com o cronograma do Rio Rural. Para que o projeto continue, os coordenadores querem construir uma rede de apoio privado e público, e a ideia é apresentá-lo a delegações estrangeiras nos Jogos Olímpicos.