01/02/2010 - 0:00
O trabalhador lança a juta no ar. O movimento estica a fibra, que na sequência é colocada no varal para secar. Este é o trabalho rotineiro de centenas de agricultores no Estado do Amazonas. A juta ali é fonte de subsistência de diversas famílias de ribeirinhos. De ciclo anual, a planta é uma erva que chega a alcançar de três a quatro metros de altura. Sua introdução no Brasil deve-se a uma missão japonesa chefiada por Tsukasa Oyetsuka em 1931. Toda fibra encontra-se entre a casca e o talo. Para extraí-la, depois de colhidos, os feixes de juta são colocados na água e permanecem ali por cerca de dez dias, o que facilita a tarefa. O processo é totalmente manual, empregando centenas de pessoas. Por isso, o governo do Estado, via Agência de Fomento (Afeam), firmou uma parceria público-privada com o grupo do empresário Mário do Nascimento Guerreiro para a criação da Brasjuta, uma empresa verticalizada voltada ao processamento e beneficiamento de duas fibras vegetais: a juta e a malva. “O investimento para a instalação da fábrica é de R$ 20 milhões, a Afeam entrou com R$ 9 milhões e a família Guerreiro com R$ 11 milhões”, diz Fernando Alberto Silva, diretor-executivo da Afeam.
A aposta tem seu respaldo na expertise de Guerreiro no assunto. O pai do empresário, hoje com 89 anos, foi o criador da Brasiljuta, empresa de processamento da planta, inaugurada com a presença do então presidente Getúlio Vargas em 1951. Naquela época, todo produto agrícola era vendido em sacaria de juta, o que fez da fibra vegetal um dos produtos de maior importância econômica para o Amazonas. Em 1965, a produção atingiu seu ápice: mais de 47 mil toneladas, e assim a juta reinou soberana até a década de 80. No entanto, com o aparecimento das sacarias de prolipropileno e ráfia, ela foi perdendo o posto, o que levou à paralisação da Brasiljuta em 1991.
Mais empregos: a produção de fibras vegetais envolve centenas de pequenos agricultores do Amazonas
Brasiljuta: a empresa inaugurada por Getúlio Vargas em 1951 funcionou até 1991
Parceria de sucesso: da esq. para a dir., Adegas, Sebastião e Mário do Nascimento Guerreiro comemoram a criação da Brasjuta
Agora, com o incentivo governamental, a família Guerreiro voltou ao ramo com com fôlego total. O intuito é aproveitar a tendências de produtos ecológicos para agregar valor ao produto. “A juta é totalmente orgânica e nós não vamos trabalhar com nenhum produto químico. Até o amaciamento da fibra será feito com produto natural”, diz Sebastião Nascimento Guerreiro, diretor-executivo da Brasjuta. Também não há intenção de exportar a fibra. “Vamos beneficiar toda a produciamento ção, produzindo fio, tecido e sacaria. Hoje o Brasil é dependente de importação de juta de Bangladesh”, explica. Por causa do apelo sustentável, as fibras vegetais cada dia mais substituem as sintéticas na indústria automobilística, que pode se tornar um bom cliente da Brasjuta.
R$ 20 milhões foi o investimento para a criação da Brasjuta. R$ 11 milhões vieram da iniciativa privada e R$ 9 milhões do governo do Amazonas
A fábrica terá capacidade de beneficiamento para seis mil toneladas anuais e começa a operar no segundo semestre deste ano. Toda matéria-prima será comprada de agricultores familiares do interior do Estado. A expectativa é adquirir quatro mil toneladas já este ano. Além do aporte na Brasjuta, a Afeam destinou R$ 1 milhão em financiamento para a aquisição de sementes de juta e malva, outra fibra, esta de origem amazônica. Para a safra 2010/2001, o programa de revitalização do setor de fibras contemplará o custeio agrícola com um montante de R$ 3 milhões e a comercialização com a quantia de R$ 4 milhões. O produtor de malva e juta ainda tem a seu favor o fato de as duas fibras estarem inclusas na lista de produtos com preço mínimo do governo federal. O quilo de ambas vale R$ 1,20 e o agricultor ainda tem um subsídio estadual de R$ 0,20 por quilo comercializado. Pelo visto, o horizonte é para lá de promissor…