13/11/2013 - 14:29
Nos três mil hectares de terras do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a 15 quilômetros do centro de Campo Grande, a capital de Mato Grosso do Sul, o que mais se vê são capins plantados para o gado. São mais de 200 experimentos visando à melhoria de uma pecuária que ocupa 170 milhões de hectares de terras no País, com um rebanho estimado em 209 milhões de cabeças. Mas essa imensa área de pasto, equivalente a mais do que o triplo da ocupada pela produção de grãos como soja, milho, feijão e trigo, poderia ser menor e utilizada para outras finalidades, se houvesse forrageiras melhores e mais nutritivas para o gado. “É disso que estamos atrás”, diz a agrônoma e pesquisadora do CNPGC Cacilda Borges. Entre os muitos experimentos da Embrapa, destaca-se a cultivar batizada de BRS Paiaguás, uma espécie de braquiária, nome científico dos capins mais plantados no País e xodó da pesquisadora. Em outubro, depois de quase dez anos de pesquisas, as sementes da BRS Paiaguás começaram a ser comercializadas no mercado.
O comércio da braquiária está por conta das empresas ligadas à Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageira (Unipasto) de Brasília, que funciona como multiplicadora das sementes melhoradas. A Unipasto reúne 31 empresas brasileiras de produção de sementes, entre elas grupos tradicionais como a Agroquima, de Goiânia, a Gasparim, de Presidente Bernardes, e a JC Maschietto, de Penápolis, municípios do interior paulista. O apelo no momento da venda está no fato de a nova cultivar da Embrapa ser desenvolvida para resistir e crescer mesmo nos períodos mais secos do ano, uma novidade nas pesquisas da Embrapa. “A Paiaguás é ideal para quem faz plantio direto e casa muito bem em sistemas de integração lavoura-pecuária, por causa do alto teor de folhas que produz”, diz Cacilda. Segundo ela, a Paiaguás foi desenvolvida a partir de um grupo das chamadas braquiárias brizantas, uma das várias braquiárias já presentes no País, como as decumbens e as humidícolas, por exemplo. Atualmente, esse grupo de plantas responde por cerca de 50% das áreas de pastos cultivados. São 55 milhões de hectares, praticamente a mesma quantidade de terras ocupadas pelas lavouras de grãos.
Pela importância do capim na alimentação animal, o Brasil hoje é o único País do mundo que investe em pesquisas de forrageiras tropicais e já é o maior produtor global de sementes. As pesquisas nacionais são aproveitadas pela pecuária numa ampla região da América Latina, que vai do México até praticamente o norte da Argentina. “Até o que está entrando na África e na Ásia são cultivares pesquisadas no Brasil”, diz Cacilda. “Nem mesmo a Austrália tem realizado pesquisas em busca de novas forrageiras para o gado.” Em setembro, a pesquisadora brasileira foi uma das palestrantes do 22º Congresso Internacional de Pastagem, em Sydney, na Austrália, evento que acontece a cada quatro anos e que reuniu cerca de 800 pesquisadores e produtores do mundo inteiro. Para a pesquisadora, pelo volume de informações acumuladas na Embrapa, o Brasil está no início de uma nova era para as forrageiras. “Estudamos durante praticamente 20 anos a parte básica de como trabalhar com as forrageiras e aprendemos o modo como elas se cruzam e onde buscar fontes alternativas de resistência a pragas e doenças”, diz. De acordo com Cacilda, atualmente a Embrapa possui um arsenal de plantas domesticadas para fazer programas de melhoramento que podem colocar novas cultivares no mercado cada vez mais rapidamente, para produzir carne e leite em sistemas sustentáveis. “Estamos caminhando para oito anos ou, quem sabe, até menos”, diz Cacilda.