Folhas, cascas e galhos finos de eucalipto, considerados resíduos florestais da produção de celulose ou papel, podem ter muito valor ou podem ser descartados. A Fibria, a maior produtora de celulose do País, começa a apostar na primeira hipótese. No início de outubro, a empresa, que nasceu da fusão entre a Aracruz e a Votorantim Celulose e Papel (VCP), anunciou que está entrando no setor de bioenergia renovável: a produção de bioóleo a partir da biomassa de eucalipto. Para isso, investiu US$ 20 milhões para ter o direito exclusivo, no Brasil, ao uso de uma tecnologia da multinacional americana Ensyn Corporation, de Wilmington, no Estado de Delaware.

Segundo o presidente da Fibria, Marcelo Castelli, a entrada no setor de energia a partir de biomassa faz parte da estratégia de maximização do valor de sua floresta renovável, que ocupa uma área plantada de 600 mil hectares. Atualmente, a área total cultivada com florestas, contando a área de conservação permanente, passa de um milhão de hectares. “Nos últimos cinco anos, a Fibria vem acompanhando as tendências do biomercado e o óleo é um produto que cai bem em nosso port-fólio”, diz Castelli. Em 2011, a receita líquida da empresa foi de R$ 5,8 bilhões, com 5,1 milhões de toneladas de celulose processadas em suas unidades nos municípios de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, e Aracruz, no Espírito Santo, e Eunápolis, na Bahia.

O bio-óleo que a Fibria quer produzir é um produto intermediário que substitui o óleo combustível em plantas industriais, mas também pode ser coprocessado em refinarias. Com o refino, ele está pronto para entrar na composição de todo produto hoje fabricado a partir do petróleo mineral. Para atuar nesse setor de produção de bioenergia, a Fibria adquiriu 6% do capital da Ensyn. Mas, a participação dos brasileiros poderá chegar a 9%, caso invistam outros US$ 10 milhões no negócio.

Além da Fibria, são acionistas da Ensyn o banco Credit Suisse, o fundo de investimento britânico Impax Asset Management, a CTTV Investments, divisão da petrolífera da Chevron, a Felpa Palm, maior produtora de óleo de palma da Malásia, e a Investeco, fundo de investimento canadense focado em energia renovável, água, agricultura sustentável e tecnologias limpas.

O interesse da Fibria em ter em carteira ações da Ensyn está no fato dessa empresa dominar a chamada Rapid Thermal Processing (RTP), tecnologia que converte madeira e outras biomassas de produtos agrícolas, como a soja ou a cana-de-açúcar, por exemplo, em combustíveis líquidos ou químicos. A RTP (ou pirólise rápida, em português) pode ser definida como a degradação térmica controlada, de qualquer material orgânico.

No País, as pesquisas de RTP têm se concentrado na cana-de-açúcar. “Fora do Brasil, a RTP já foi amplamente estudada, tem maturidade e rendimento maior que outras tecnologias já apresentadas ao mercado”, diz Castelli. Atualmente, o principal produto dos americanos baseado na RTP é o combustível líquido conhecido como Renewable Fuel Oil (RFO).

A Ensyn já processou 132 milhões de litros de RFO a partir de biomassa, em unidades localizadas no Estados Unidos, na Malásia e no Canadá. “Nossa participação na Ensyn nos assegura total conhecimento sobre os testes para a melhoria no processo produtivo do bio-óleo”, diz Castelli. “Estamos na vanguarda da fabricação de combustíveis a partir dessa tecnologia.”

A aliança estratégica com a Ensyn também contempla a formação de uma joint venture para a implantação de fábricas para produzir o bio-óleo no País. Segundo Castelli, a Fibria ainda não decidiu qual das três fábricas de celulose da empresa ganhará a primeira unidade de bioóleo. “Ainda estamos estudando porque, com a joint venture, cada projeto deverá ser aprovado individualmente pelos acionistas da Fibria e da Ensyn”, diz Castelli. “Podemos fazer parcerias com outros provedores de biomasssa, seja de base florestal ou outra cultura, para produzir bioóleo.” A depender da infraestrutura já existente, uma fábrica com capacidade de processar 400 toneladas por dia de biomassa seca e produzir 83 milhões de litros de bio-óleo, por ano, pode demandar investimentos de US$ 60 milhões a US$ 100 milhões. “É o que a Ensyn tem investido para projetos de RTP nos Estados Unidos e Canadá”, diz Castelli.