São Luís, a capital maranhense, tem sido uma segunda casa para o executivo Luiz Claudio Ferreira dos Santos, presidente do consórcio que administra o Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), complexo exportador graneleiro no porto do Itaqui, no Estado. Pelo menos uma vez por mês, desde que o porto foi inaugurado em março de 2015, Santos parte da capital paulista, onde reside, e desembarca no Tegram para uma pesada agenda de reuniões, nas quais recebe clientes, analisa as operações e define estratégias para o terminal. No mês passado, a DINHEIRO RURAL acompanhou o executivo em sua passagem por São Luís. Na tarde de um dia escaldante, com a temperatura próxima dos 30 graus, o movimento era intenso. Em um dos berços (espaço onde o navio atraca), estava ancorado um imenso navio. No lado oposto, longas esteiras recolhiam milho que chegava por caminhões ou pelos trilhos da ferrovia Norte-Sul, desde Anápolis, no interior de Goiás. “Os produtores estavam certos quando, em 2003, durante a exposição agropecuária do município de Balsas, começaram um movimento de reivindicação do porto”, diz Santos. “Foi aí o início do que viria a ser o Tegram. Tudo o que era esperado, virou realidade.”

Até o mês passado, o Tegram movimentou cerca de 3,7 milhões de toneladas, das quais 2,1 milhões de toneladas de soja, 1,4 milhão de toneladas de milho e 185 mil toneladas de farelo de soja. Para todo o ano de 2016, a previsão é exportar 4,5 milhões de toneladas, do total de cinco milhões de capacidade. “Nossa expectativa é atingir esse volume com facilidade”, diz Santos. Por isso, no final de fevereiro, o Tegram anunciou novos investimentos para aumentar ainda mais o tamanho das operacões, da ordem de R$ 130 milhões. O montante servirá para iniciar, ainda no segundo semestre de 2016, a segunda fase do projeto, que deverá estar pronta em 2018. Será construído um segundo berço para a atracação de navios e uma linha para descarga, a partir da ferrovia. A expansão elevará a capacidade anual para dez milhões de toneladas de grãos.


Tecnologia:  da sala de controle, os técnicos gerenciam toda a movimentação de cargas que chegam por rodovia e ferrovia

O consórcio Tegram, criado em 2012, reúne a Cantagalo General Grains (CGG Trading), onde Santos é diretor de logística e que faz parte do grupo Coteminas; a NovaAgri, do fundo Pátria; a trading suíça Glencore e o consórcio Crescimento, formado pela Amaggi, que pertence à família do senador Blairo Maggi, e a francesa Louis Dreyfus Commodities. Os investimentos iniciais foram de R$ 600 milhões, para construir o local de atracação dos navios, quatro armazéns para 500 mil toneladas e estrutura de recebimento para 52 mil toneladas diárias de grãos. O terminal comporta a descarga de 800 caminhões e 80 vagões de trem.

O esforço em direcionar a logística para o Norte do País tem dado resultado. Há uma década, os embarques de grãos pelo chamado Arco Norte eram apenas projetos. Em 2015, os portos do Itaqui, mais Itacoatiara (AM), Santarém e Vila do Conde (PA), e Salvador (BA), exportaram 20 milhões de toneladas de soja e milho, ante 13 milhões em 2014. O crescimento foi de 54%. Nos últimos cinco anos, a participação do Arco Norte, que representava 8% dos embarques desses grãos, saltou para 21% na safra 2014/2015, quando o País exportou 105,9 milhões de toneladas, por US$ 41,8 bilhões.


Estrutura: esteiras ligam o complexo de desembarque e embarque de grãos, que pode receber até 52 mil toneladas por dia

De acordo com Luiz Fayet, consultor de infraestrutura e logística da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), se o Brasil ampliar em cinco milhões de toneladas anuais a sua capacidade de embarque de grãos no Arco Norte, ainda levaria até 20 anos para equilibrar a demanda por terminais de exportação. “Isso seria somente para atender as novas fronteiras agrícolas, que vem aumentando a produção de grãos entre 3 e 5 milhões de toneladas, por safra”. As fronteiras agrícolas às quais Fayet se refere são 73 milhões de hectares que abrange os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a região chamada Matopiba, e o norte do Estado de Mato Grosso, uma área de 11,3 milhões de hectares. Apenas o Matopiba produz cerca de 11 milhões de toneladas anuais de grãos, volume que deve dobrar até 2022. No norte de Mato Grosso a atual produção é de 900 mil toneladas e deve chegar a 2,9 milhões em 2025, segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia e Agropecuária. (Imea).


De frente para o mar: berço de atracação onde navios recebem os grãos. Até 2018, mais uma instalação entrará em atividade

Para o presidente do Tegram, a enorme capacidade de produção na região vai crescer de modo mais sustentável, justamente pelas opções que vêm se consolidando. “A falta de logística restringia o aumento da produção local”, afirma Santos. “Agora, estamos em um outro momento, abrindo novas frentes.” Uma amostra dessas possibilidades está no primeiro carregamento de farelo de soja feito pelo Tegram, em dezembro. Foram 40 mil toneladas vendidas para a Europa. “Antes, esse farelo saía pelo porto de Santos”, diz. “Pelo Tegram, com o produto embarcado em Anápolis, foram quatro dias de operações, contra dez dias se ele fosse exportado pelos portos do Sul.”


Crescimento:Lago, presidente da Emap, diz que o Tegram impulsionou os embarques do porto do Itaqui

O porto deve se tornar a saída mais barata de escoamento da produção, principalmente se estiver casado com operações ferroviárias. A partir desta safra, 40% dos grãos recebidos no terminal devem chegar por ferrovia, o equivalente a 1,8 milhão de toneladas. Fayet diz que o setor do agronegócio precisa procurar alternativas mais em conta daqui para a frente.  “O resultado dessa equação são os portos do Arco Norte, mais próximos dos mercados europeus e asiáticos, através do Canal do Panamá, que passa por obras de expansão”, afirma ele.

Não por acaso, em 2015 o Tegram teve uma participação expressiva nos resultados da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), responsável pelo porto do Itaqui. De acordo com o presidente da Emap, Eduardo Lago, ou Ted Lago, como é conhecido, o porto registrou um aumento de 21% no movimento de cargas, que atingiu 21,8 milhões de toneladas de produtos, entre eles cimento, minério de ferro, calcário, manganês, alumínio e fertilizante. “Antes do Tegram apenas 15% da produção de grãos brasileira era exportada pela região Norte. O restante saía pelos portos do Sul e Sudeste”, diz Lago. “Daqui para a frente, as  alternativas serão cada vez mais competitivas para reduzir custos logísticos.” Em fevereiro, o governo federal anunciou que pretende publicar 20 editais para licitação de áreas de terminais portuários até o final do ano, já aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. No dia 31 deste mês, seis seriam apresentadas no Pará. O governo pretende licitar outras 73 áreas em portos públicos, ainda neste ano.