15/07/2013 - 15:46
Quando o empresário Nelson Mallmann viajou a Israel, em 2009, ficou encantado com um tomatinho de cerca de três centímetros e 12 gramas de peso, de cultivo delicado e de um sabor que se destacava pela doçura. Mallmann não resistiu, trouxe sementes da variedade na bagagem, e foi um dos pioneiros a cultivar o tomate grape no Brasil. “Gostei, degustei, achei ótimo”, diz. “Além disso, a planta se adaptou muito bem por aqui.” De lá para cá, o pequeno fruto também caiu no gosto do brasileiro e o negócio de Mallman só cresceu. Há quatro anos, na primeira safra, o agricultor possuía apenas 200 pés da variedade. Hoje, a Tomates Mallmann cultiva 88 mil plantas em oito estufas. Na área de 40 mil metros quadrados são colhidas mais de 40 toneladas de grape por mês. Além das estufas, a empresa possui uma área de 417 hectares em São Paulo e no sul de Minas Gerais para o cultivo de tomate longa vida, com produção esperada de 36,4 mil toneladas.
Pela qualidade do fruto, o grape é um dos primeiros nomes que vêm à cabeça dos consumidores quando o assunto é tomate gourmet. Além da aparência impecável e do formato que valoriza os pratos, o tomate agrada de chefs a donas de casa por causa da doçura. Em geral, o grau brix, medida que calcula o teor de açúcar do fruto, gira em torno de oito. Só para comparação, os tomates de mesa longa vida apresentam brix entre 4 e 6. “O nosso grape é ainda mais doce do que o mercado exige, tem nota de 8,5 a 9”, diz Mallmann. Segundo o gerente de produção, Freddy Weel, isso só é possível por conta da produção cuidadosa. “Combinamos o uso de fertilizante, irrigação e controle de temperatura”, afirma. “A mão de obra também conta muito, porque ela precisa estar preparada para colher a fruta no ponto certo: vermelha e madura.” Mallmann cultiva os tomates em estufas refrigeradas, que antes serviam ao plantio de flores e foram adaptadas pela empresa. “Somos os únicos no País a produzir grape em ambiente controlado”, diz. A empresa segue investindo no manejo e a produtividade mensal, que era de 1,2 quilo por metro quadrado no ano passado, hoje já avançou para 1,4 quilo de grape.
O grape representa apenas 5% do faturamento total da empresa, que deve fechar 2013 na casa de R$ 105 milhões, enquanto o tomate de mesa gera 77% da receita e outra parcela é resultado do cultivo de cebola e cereais. Mas, segundo Mallmann, o grape aponta uma tendência e esse percentual deve crescer. “O consumidor demanda um tomate de melhor qualidade e isso nos motiva”, diz Mallman. “Apostamos nesse mercado e queremos avançar na linha gourmet.”
O pesquisador Paulo César Tavares de Melo, da Esalq/USP, de Piracicaba, diz que ainda não há estatísticas seguras sobre o mercado gourmet, mas estima-se que ele represente 20% da produção total de tomates de mesa. A produção da fruta movimenta cerca de R$ 5 bilhões por ano no País, com preços em constante oscilação. Neste ano, depois de ter se tornado um dos vilões da alta inflacionária, a projeção do valor bruto da produção agrícola (VBP) ultrapassa R$ 8 bilhões. A área ocupada pela cultura atualmente é de 58 mil hectares, com uma colheita anual de 3,6 milhões de toneladas de tomates. Parte desse volume é de tomate industrial destinado aos fabricantes de molhos e atomatados. Para o consumo, o chamado tomate de mesa, a área de cultivo chega a 40 mil hectares e a produção, a 2,2 milhões de toneladas por ano. É nesse mercado que os agricultores estão vendo novas oportunidades de negócio.
Segundo Marcos Ferreira, diretor administrativo da Tomates Mallmann, a tendência de tomates que priorizam o sabor impacta na produção das demais variedades. “Toda a cadeia está se profissionalizando e o alto risco da cultura está afugentando especuladores”, diz Ferreira. “Para permanecer nesse mercado é preciso investir.” A Mallman, por exemplo, aposta no manejo ecológico de pragas, no sistema de plantio direto para evitar a erosão do solo, na técnica de fertirrigação e, por conta própria, realiza análises para controlar os resíduos de agroquímicos nos frutos. Além disso, possui uma classificadora automatizada para seleção e embalagem do produto, a “packing house”, com custo fixo mensal de R$ 1,4 milhão. Um dos resultados dessa profissionalização foi a conquista, neste ano, de duas certificações internacionais: o Globalgap para os tomates grape, que indica práticas agrícolas de padrão europeu, e o selo HACCP em segurança alimentar, garantindo que a fruta é manipulada com higiene. “Temos vantagens competitivas e estamos crescendo com foco na inovação”, diz Ferreira.
Nas gôndolas dos supermercados, o grape faz bonito junto com outras variedades de alto potencial de mercado. “Os tomates adocicados conquistaram principalmente o público infantil”, diz Leonardo Miyao, diretor comercial do Grupo Pão de Açúcar. “Toda mãe adora ver o filho comendo uma hortaliça.” Segundo o diretor, a linha de tomates gourmet já conta com uma diversidade interessante no Brasil. Além do grape há o tomate-cereja, o sweet grape, o piccolo e o italiano gourmet. De olho nesse mercado, a empresa quer firmar parcerias para trazer ao País a variedade rosso bruno, um tomate agridoce e de coloração marrom, muito conhecido nos Estados Unidos. Nesse nicho de mercado, Miyao defende que o preço não é um impedimento de compra para o consumidor. “O brasileiro está disposto a mudar hábitos de compra”, diz. “Agora, é o sabor que fideliza o consumidor.” Na gôndola dos supermercados, uma pequena bandeja de tomates grape, com 150 gramas, está custando R$ 3,45, o equivalente a R$ 23 por quilo. Uma bandeja de 500 gramas de italiano gourmet vale R$ 4,15 ou R$ 8,30 o quilo, enquanto o quilo do tomate de mesa convencional sai por cerca de R$ 6.
A pesquisadora Alice Nagata, da Embrapa Hortaliças, de Brasília, concorda com Miyao. “O tomate de mesa longa vida é bom para quem transporta e revende, porque dura muito na prateleira”, diz Alice. “Mas o produtor precisa investir para atender um consumidor que pede por outros tipos de alimentos.” As empresas de sementes também estão atentas a essa tendência. A gigante alemã Bayer CropScience, por exemplo, lançou no mês passado a variedade tarantely, um tomate italiano do tipo saladette indicado para linhas gourmet. “Estamos desenvolvendo variedades de tomates mais saborosos”, diz Fabricio Benatti, gerente- geral da Nunhems, divisão de sementes de vegetais da multinacional. “O tarantely é nosso primeiro tomate com um melhoramento genético 100% brasileiro.”