12/02/2021 - 16:56
Nos últimos 40 anos, a produção agropecuária brasileira se desenvolveu de tal forma que o País já se destaca como um dos grandes fornecedores de alimentos do mundo e deve ser o grande fornecedor de suprimentos alimentares do futuro.
A revolução no campo, que poderá tornar o Brasil líder no mercado mundial, só virá por meio de uma expansão tecnológica, da democratização da conectividade nas lavouras. Nesse sentido, quem terá o protagonismo serão as startups e não as multinacionais ou grandes empresas, movimento semelhante ao que aconteceu no mercado financeiro com a entrada das fintechs.
De acordo com a pesquisa “Brasileiro e o dinheiro”, da MindMiners, em 2017, 25% dos respondentes afirmaram que utilizavam as fintechs, já em 2019, este número passou para 55%.
O fato do brasileiro ser um dos povos mais conectados do mundo tem ajudado as fintechs. Segundo levantamento da TIC Domicílios 2019, três em cada quatro brasileiros acessam a internet, o que equivale a 134 milhões de pessoas. Porém, no campo a realidade ainda é outra: mais de 70% das propriedades rurais não têm internet. É o que aponta o último Censo Agropecuário, de 2017, realizado pelo IBGE.
Hoje um dos gargalos para adoção da tecnologia no campo é a conectividade, o desafio é fazer a internet chegar no meio rural. Mas neste caso temos uma grande oportunidade, especialmente para empreendedores, que podem levar soluções que melhorem a produção da lavoura de pequenos e médios agricultores através de tecnologia.
Hoje, apenas os grandes produtores e grupos agrícolas têm acesso a tecnologias que otimizam as produções. Segundo o IBGE, os pequenos e médios agricultores são responsáveis por abastecer 70% dos alimentos que chegam à casa dos brasileiros.
Na esteira desses desafios surgem oportunidades para o agronegócio brasileiro e para os inovadores. Empresas de tecnologias, as startups, têm democratizado o acesso de pequenos agricultores de grãos a ferramentas que aumentam a produtividade da lavoura.
As ferramentas têm preços acessíveis, e tem como benefício gerar inteligência, automação e otimização de processos, ajudando os produtores a tomar as melhores decisões na hora certa. Dessa forma, os produtores economizam dinheiro e tempo.
A soma das tecnologias digitais atuais, gestão rural e aplicação de boas práticas agrícolas, irá aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental da agricultura em um contexto de crise climática e hídrica com uma população crescente que demandará mais alimentos.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), nos próximos 30 anos estima-se que a população vai crescer 50%. Para atender toda essa população, a indústria agropecuária vai ter que crescer 70%, significa que vai ter um 1 bilhão a mais de toneladas de soja, trigo e outros cereais.
Para aumentar a produtividade os produtores rurais precisam ser sustentáveis. As fazendas com maior potencial de produção estão na África e na América Latina. Ou seja, mais de 40% da produção de alimentos virá do Brasil.
Portanto, quem vai trazer a agricultura mundial e nacional para o próximo patamar, e que irá garantir a segurança alimentar no planeta utilizando os recursos naturais de forma sustentável, aumentando a produção de alimentos para suportar o aumento da população, serão as startups.
Segundo a StartupBase, em 2019, havia mais de 1,2 mil startups relacionadas ao segmento no Brasil, número que se elevou em 2020, cada vez mais, e elas estão recebendo subsídios milionários.
O Brasil tem a oportunidade única desta nova safra de startups, que deverão ser referências mundiais em tecnologia e promoverem a revolução no campo.
*Renato Borges é Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e CEO da Agrointeli. Acaba de ser eleito nas listas Under 35 do MIT Technology Review e Under 30 da Forbes Brasil.