01/04/2008 - 0:00
LAR, DOCE LAR: a pecuarista em frente à sede da Fazenda Quilombo, em Itupeva (SP)
Dizem que a pecuária é um negócio para homem, certo? Errado. Que o setor é tradicionalmente dominado por homens, não é segredo para ninguém. Mas isso não quer dizer que não haja espaço para mulheres, inclusive na liderança do mercado. O melhor exemplo é Alice Sampaio Ferreira, dona da Fazenda Quilombo, um dos mais importantes centros selecionadores de genética nelore. São 26 anos de criação e uma base de 3.500 animais Puros de Origem, divididos em duas unidades. Ao longo dessa história, inúmeros títulos e premiações foram conquistados. História, aliás, é algo que faz parte deste criatório. A sede da fazenda, em Itupeva (SP), segundo registros e levantamentos, beira os 200 anos e é uma das mais antigas propriedades do País. De um lado, história, do outro, tradição. Entre ambos, negócios e bons números.
SELEÇÃO: fontes do mercado acreditam que o próximo leilão renderá em média R$ 200 mil por animal
O último leilão, realizado em 2006, levantou R$ 3,8 milhões, com média de R$ 128 mil por lote. Em 30 de maio próximo Alice realizará um novo pregão e, segundo apurou DINHEIRO RURAL com fontes de mercado, espera- se uma média de, pelo menos, R$ 200 por animal. “Prefiro realizar meu leilão a cada dois anos, porque dessa forma consigo selecionar o que há de melhor para colocar à venda”, explica. Além da oferta bianual, Alice faz receita com outras atividades da fazenda, principalmente com a venda de tourinhos. Os animais são submetidos todos os anos a uma bateria de testes, realizados pela Embrapa Gado de Corte.
Os dez melhores exemplares são retidos na propriedade e os outros vendidos para melhorar os rebanhos comerciais. “É exatamente a mesma genética do plantel de elite, com a diferença de não serem os melhores animais para pista”, explica. Essa maratona de exames acontece numa espécie de “subsede” da Fazenda Quilombo, no município de Perdizes, próximo a Campo Grande (MS). “Vendo cerca de 500 animais todos os anos e assim que terminamos as provas, os compradores já estão praticamente batendo na porta da fazenda”, brinca. Cada animal é vendido em média por R$ 5 mil e confere à Quilombo uma receita extra de R$ 2,5 milhões/ano.
Toda essa expertise e dedicação trouxeram outras responsabilidades para Alice. Há nove anos ela se dedica à Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), dos quais três como presidente da entidade. Entre os trabalhos que ajudou a criar, está o programa “boi de capim”, que visa agregar valor ao chamado “nelore natural”.
HISTÓRIA: a sede da Fazenda Quilombo, segundo registros, tem quase 200 anos de fundação
Segundo o ex-presidente da ACNB, Carlos Viacava, antecessor de Alice, o destaque da pecuarista é algo natural. “O trabalho que ela faz com a criação é impecável e, como ela possui um grande poder de decisão, é absolutamente positivo para o mercado que ela presida a associação. Por mim, ela fica mais três anos”, sentencia. Ela, porém, tem outros planos pela frente. “São nove anos de ACNB, então está na hora de outras pessoas assumirem o comando e darem novas idéias”, resume. Com o tempo que sobrará, Alice diz que aproveitará mais a fazenda e a proximidade com os animais. “Tenho uma equipe fantástica que sabe exatamente o que tem de ser feito, mas sem dúvida poder estar perto da criação é sempre muito mais prazeroso, afirma.