09/02/2021 - 12:04
Especial 2021
Enquanto diversas atividades econômicas foram comprometidas com os impactos da Covid-19, o agronegócio brasileiro se mostrou resiliente. Dentre as principais commodities com essa característica está o algodão, que encerrou a safra 2019/2020 com produção recorde de 3 milhões de toneladas da fibra em pluma, mesmo sendo parte do complexo agropecuário não alimentar e não essencial ao consumidor em ano marcado por restrições devido à pandemia. O aumento foi de 8% em relação a 2018/2019, que somou 2,8 milhões de toneladas. Em uma área de 1,7 milhão de hectares, o produtor brasileiro se beneficiou de condições climáticas favoráveis. “Com os níveis ideais de chuva nas regiões de lavoura foi possível alcançar o potencial produtivo dos algodoais”, afirmou Milton Garbugio, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). O alto nível de investimentos e a utilização de novas tecnologias também colaboraram para a elevação da produtividade e da melhora na qualidade da fibra. Mesmo com a produção elevada, a rentabilidade não agrada aos produtores, que vêm perdendo o interesse no plantio diante de opções mais rentáveis, como milho e soja. “Há dois, três anos, o preço estava acima de US$ 0,80 por libra-peso. Atualmente flutua entre US$ 0,50 e US$ 0,65”, disse Garbugio. Como consequência dos preços que, segundo a entidade, não pagam muitos dos custos de produção, o Brasil deve perder de 10% a 15% da área plantada na safra 2020/2021.
Após breve queda devido à pandemia, exportações voltaram a crescer após agosto
Com a intensificação do isolamento social, após março de 2020, o setor sofreu com a paralisação temporária das indústrias têxteis, confecções e do comércio, o que fez com que a demanda mundial recuasse. “Os contratos foram renegociados para que a entrega fosse realizada conforme os mercados reabrissem”, afirmou Henrique Snitcovski, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). No segundo semestre, o setor recuperou o fôlego e as exportações voltaram a crescer, inclusive para a China. “Além do retorno de mercados consumidores tradicionais que haviam interrompido as atividades, novos negócios também passaram a ser realizados”, disse Snitcovski. O crescimento exponencial das vendas internacionais de algodão em bruto foi um marco para o setor. As embarcações da safra 2019/2020 devem totalizar 1,9 milhão de toneladas, com faturamento de US$ 3,1 bilhões, ante os cerca de US$ 2,2 bilhões da safra anterior, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Parte do crescimento foi beneficiado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, país que embora seja o segundo maior produtor mundial da fibra (6 milhões ton/ano), sofre com deficit anual de cerca de 2 milhões de toneladas. Parte da demanda é atendida pelo Brasil que tem no país asiático seu maior comprador (26%), seguido por Vietnã (18%) e Paquistão (12%).
IMPACTOS Os efeitos do isolamento social no mercado interno, no entanto, foram sentidos especialmente no primeiro semestre de 2020 quando houve queda de 22% na produção, em relação ao mesmo período de 2019, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Na outra mão, com o câmbio favorável, o agricultor preferiu investir em mercadorias de exportação. Como resultado, cerca de 70% da safra brasileira foi vendida para fora, o que provocou receio quanto à disponibilidade do produto. “O que aconteceu foi a falta de oferta no curto prazo, já que o produtor também planta outras culturas que estavam exigindo maior atenção”, disse o presidente da Anea. O problema, segundo a entidade, já foi solucionado e não há mais riscos.
Quanto a safra 2020/2021, o cenário ainda é de incerteza. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção deve cair de 3 milhões para 2,7 milhões de toneladas de algodão em pluma. Devido ao atraso das chuvas durante o plantio da soja em Mato Grosso, que afeta a janela de plantação da fibra em sua principal região produtora, é esperada redução da área plantada e queda de produtividade. “Por questões de rentabilidade alguns produtores talvez escolham permanecer em outras culturas. Mas ainda é cedo para conclusões”, disse Garbugio. Quanto à qualidade, o presidente da Abrapa reforça que o resultado ainda depende das condições de plantio e clima – instável no ano devido aos efeitos da La Niña. Em relação aos preços, o setor acredita em melhoras. Para a exportação, Snitcovski aponta que a tendência é de manutenção dos níveis atuais, situação que deve mudar em breve. “Há um trabalho da Abrapa junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e ao governo para ampliar a participação do Brasil mundo afora”, disse.